Conversando com o Bispo

O Mandamento Novo - 5º da Páscoa - Ano C

15/05/2022 | Tempo de leitura: 4 min

O livro do Apocalipse fala que João teve a visão do novo céu e da nova terra, pois que eles são a morada de Deus entre os homens. Então, não mais haverá morte, nem luto, nem choro, nem dor, porque o próprio Deus estará no meio deles. Esta mensagem vem da segunda leitura da Missa de hoje - Ap 21,1-5. Ela se liga à do Evangelho de hoje - Jo 13,31-35. Ora, Jesus afirma no Evangelho que para Deus morar entre os homens é necessário que eles acolham e ponham em prática um mandamento novo. Jesus formulou este mandamento, logo depois que Judas o traiu, durante a ceia santa do lava-pés e da Eucaristia. Desmascarado quanto à sua traição, Judas saiu da sala e Jesus disse: "Agora foi glorificado o Filho do Homem e Deus foi glorificado nele". No contexto pré-pascal e na circunstância do pecado de traição, que parece insignificante, dá-se a oportunidade da manifestação da glorificação de Deus e do mandamento do amor. Para explicitar o mandamento do amor, Jesus prosseguiu, dizendo: "Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros". Bem sabemos que este mandamento é complemento do único mandamento do amor, o amor a Deus, acima de tudo, e o amor ao próximo, seja quem for. Ora, a primeira conclusão a se tirar é que a vivência do amor é condição necessária para a criação do novo céu e da nova terra, nos quais não haverá mais tristeza, nem dor, nem lágrimas. A segunda, é que o novo mundo, mesmo sendo dom de Deus, é também compromisso cristão. Seu crescimento e progresso rumo à plenitude do Reino dos Céus dependem sim da graça e do comprometimento dos cristãos. Amar é o mandamento novo. Vivê-lo é uma luta que implica passar por tribulações, combater o pecado, que é sempre uma traição, e perseverar na fé e na prática do bem. O que cria o novo céu e a nova terra é o amor, o amor filial a Deus e o amor fraterno aos outros. Este é o mais importante dos mandamentos. Quem não se esforçar para viver segundo ele cairá na idolatria, na tentação da traição a Deus, adorando ídolos, e na tentação da traição aos outros, porque não se aproximará das pessoas para servir, mas para ser servido, erigindo-se a si próprio como deus. O pecado contra o primeiro mandamento é sempre de traição, de idolatria, de adoração a ídolos.

Se Deus é amor, então, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus é também amor. O amor é, pois, a identidade do cristão. O amor praticado pelas pessoas deve ser o sinal visível mediante o qual o mundo reconheça quem é de Deus e a favor da fraternidade de todos os homens e quem são os traidores da pátria de Deus, da fé e esperança, e da pátria dos homens, da justiça, do bem e da paz. Repito Jesus no Evangelho da Missa: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros". O apóstolo já disse que é impossível amar a Deus, a quem não se vê, se não se amar o outro, a quem se vê.

Posso dizer com sinceridade que recebi a graça da fé. Graças a Deus! Vivo nela até hoje e peço, diariamente, a perseverança até o fim. Nem por isso minha vida é mais fácil da dos que professam o ateísmo. Gente de peso já disse que o ateísmo é o modo filosófico mais fácil, quase infantil. E que Deus é o conceito mais complexo já criado pela filosofia, um desafio aos limites do pensamento. Isso do ponto de vista prático, que mais nos interessa, se pode dizer também que o homem sem fé vive melhor porque está mais livre ao menos de muitas obrigações religiosas e morais. De fato, ter fé em Deus, sobretudo a fé cristã, é um desafio e um compromisso incômodo, exigente. Até mesmo alguns discípulos antes de se afastarem de Jesus, como de fato o fizeram, lhe disseram: "Essa é uma doutrina muito dura, quem consegue escutá-la?" Mas, Jesus não procurou amenizar a sua palavra. Apenas perguntou aos doze: "Vocês também querem ir embora?" Sabemos que Simão Pedro respondeu assim: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o santo de Deus". Essa passagem pode ser vista em Jo 6,6-69.

Demos graças a Deus pelo dom da fé. Peçamos a graça de crescer na fé e nela permanecer para sempre. Crer em Deus é amar. Tudo quanto se diz da fé se diz mais ainda do amor, porque o amor não acaba nunca, é o modo de viver neste e no outro mundo, no novo céu e na nova terra. Este mundo novo é a morada de Deus entre os homens, onde não existirá mais a morte, nem choro, nem dor. É a morada do Amor eterno.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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