Alberto Consolaro

Tatuagens nas mucosas: pode?

04/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A pele tem uma camada de queratina espessa na superfície e não deixa transparecer a cor do sangue logo abaixo do epitélio. Quando tem mais melanina, transparece a cor deste pigmento que tende ao negro ou vermelho, como nos ruivos. Pigmento significa “feito para dar cor”. As tintas estão cheias de pigmentos.

Nas tatuagens, os pigmentos inseridos ficam no epitélio, mas principalmente impregnam as membranas e as fibras do tecido conjuntivo, onde permanecem por meses e até longos anos. Com o tempo, os tecidos se renovam e estes pigmentos são levados para longe do local por células chamadas de macrófagos. As tatuagens precisam de manutenção periódica.

ORNAMENTAIS

Nas mucosas das cavidades corporais, o epitélio se renova mais rapidamente e se tem quase nada de queratina na superfície, deixando transparecer a cor rosa do tecido conjuntivo subjacente. Perfurar e aplicar os pigmentos é mais eficiente nas mucosas, mas também se perde mais rapidamente a vivacidade, e precisa ser renovada a cada ano. O tatuador tem que ser mais ligeiro pelo desconforto, compensado pela reparação muito mais rápida do que na pele. O risco de contaminação e sangramento pode ser maior do que na pele durante a aplicação e reparação; os cuidados devem ser dobrados.

É modinha tatuar as mucosas. Na boca se desenha símbolos e nomes no palato ou na parte interna do lábio inferior, usando-se uma técnica mais delicada pela maior sensibilidade. Em outras mucosas também, cada vez mais se faz tatuagem que, se abandonadas, vai desaparecendo com o tempo.

Nas mucosas, assim como na pele, as tatuagens podem ser terapêuticas para mascarar cicatrizes após acidentes, cirurgias e marcas da vida. Podem ser refeitas as auréolas das mamas, mas também o vermelhão dos lábios e o seu contorno. Os pigmentos quase sempre são inertes e não induzem processo inflamatório associado, sem consequências para os seus portadores.

ACIDENTAIS

Na boca se têm tatuagens acidentais quando o material restaurador de dente chamado amálgama de prata ou cimentos obturadores de canal com sais de prata, caem em uma área operada como exodontia, cirurgia periodontal e feridas acidentais. Os sais de prata impregnam as fibras elásticas da submucosa e a membrana basal do epitélio, deixando uma mancha escura na língua, palato e gengiva, conhecida como tatuagem por amálgama e, cientificamente, como “argirose ou argiria focal ou localizada”.

Na boca ainda se pode ter outro tipo de tatuagem acidental quando as crianças e adolescentes colocam lápis colorido para molhar a grafite sobre a superfície da língua, lábio ou gengiva de forma repetitiva, por longos períodos e quase todos os dias, para aumentar a intensidade da cor. O pigmento da grafite sai e impregna o epitélio, membrana basal e até fibras da submucosa. Isto pode explicar certas manchas na superfície da língua e outras partes. Mas, temos que ter cuidado, pois se não souber a causa, é interessante fazer uma biópsia para desvendar ao microscópio do que se trata.

REFLEXÃO FINAL

Uma pergunta frequente: - Por que tatuar as mucosas do corpo? A resposta pode ser outra pergunta: - Por que não tatuar as mucosas? Se não fazem mal e o desconforto compensa o bem-estar de se embelezar para si mesmo e aos que te cercam, que sejamos felizes! E tem mais: 1) não custa tão caro, 2) não prejudica ninguém e 3) nem são pagas com dinheiro público imoralmente obtido!

Alberto Consolaro é professor titular da USP em Bauru e colunista de Ciências do JC

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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