Conversando com o Bispo

Fazer a mesma coisa - Ano C

10/07/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Hoje, a Igreja lê na Santa Missa a parábola do bom samaritano contada por Jesus, segundo o relato de São Lucas - Lc 10,25-37. Porque muito conhecida, podemos cair na tentação de considerar esta parábola muito gasta, sem mordência, nesse nosso mundo competitivo e individualista. O coração egoísta de muita gente continua impermeável ao sofrimento dos outros. Dizemos como desculpa que hoje o mundo é outro, sendo impossível nas grandes cidades discernir as vítimas dos bandidos e dar conta dos tantos casos que acontecem no dia a dia ante nossos olhos. Não sabemos como socorrer as vítimas das violências. Muitas vezes consideramos bandidos os pobres moradores de rua, as crianças, adolescentes e jovens sem pais, os viciados e dependentes das drogas, os menores envolvidos nas práticas criminosas. Julgando tudo a mesma coisa, nos desculpamos pela nossa inércia e passamos ao largo das vítimas sem ao menos nos aproximar para ver e socorrer. Quando muito, diante das tragédias, nos comovemos.

Na parábola, Jesus acusa dois religiosos, homens do Templo, um sacerdote e um levita, por passarem adiante de um homem abatido à beira da estrada, sem que nenhum deles sequer desse a este homem algum socorro, ele que estava ferido, vitimado por assaltantes no caminho de Jerusalém a Jericó. Um samaritano, porém, pessoa comum que não pertencia ao povo israelita nem vinha de algum Templo, mas que era um simples comerciante, viu aquele homem, chegou perto dele e sentiu compaixão. Aproximando-se, desceu do animal, tratou as feridas com óleo e vinho, montou-o no animal e levou-o a uma pensão onde cuidou dele. No dia seguinte, tendo de continuar sua viagem, deu duas moedas de prata ao dono da pensão pelo atendimento dispensado àquele homem, pedindo para tomar conta dele até a sua volta, quando pagaria eventuais gastos a mais.

Próximo foi o samaritano porque usou de misericórdia para com a vítima ferida na estrada. Eis o que Jesus está a nos dizer hoje: "Vá e faça você a mesma coisa".

Diante do sofrimento, o mais importante de tudo é a misericórdia, como ouvimos de outra Palavra de Deus segundo São Mateus: "Misericórdia quero e não holocaustos" (Mt 9,13).

O Papa Francisco na sua encíclica "Fratelli Tutti" (Vós sois todos irmãos) afirma que a humanidade precisa aprender a conviver, a voltar decididamente a interessar-se pelos outros. Como o Papa diz: "A sociedade globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos". Fala inclusive que a "A sociedade tende a desinteressar-se dos outros". E interroga-nos: "Com quem te identificas?". "Quem é teu próximo?". Lembra que a parábola do bom samaritano é um exemplo claro mediante o qual "Jesus não nos convida a interrogar-nos quem é vizinho a nós, mas a tornarmo-nos nós mesmos vizinhos, próximos. E aponta que: "Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano".

O amor de Deus é que nos chama a amar o próximo como a nós mesmos. Na vivência deste amor é que deve basear-se uma "cultura do encontro" a qual vivida na prática do cotidiano torna possível "pensar e gerar um mundo aberto", como ensina a Fratelli Tutti.

O Papa Francisco nos convida a todos a tomarmos parte ativa no resgate da "cultura do encontro", repetindo na vida a história do bom samaritano e trilhando a estrada pavimentada sobre as pedras do bem, do amor, da justiça e da solidariedade, a qual possibilitará "descobrirmos que todos são importantes, que todos são necessários, que são rostos diferentes da mesma humanidade amada por Deus".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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