Reflexão e Fé

Satanismo e o politicamente correto

24/07/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Temos visto que toda vez que uma pessoa é acusada de desrespeitar alguém, ela é inserida na falta do politicamente correto. O termo surgiu em 1793 na suprema corte do EUA, porem o conceito ganhou força somente na década de 1990. É salutar viver numa sociedade de respeito, onde cada um renuncia um pouco de sua individualidade. Mas quando o "politicamente correto" é transformado em objeto de cerceamento da expressão alheia se torna irrealizável, pelo fato de ninguém possuir controle pleno de como a sua comunicação será absorvida pelo outro. Por exemplo, mesmo sem a mínima intenção da ofensa, o termo denegrir se tornou politicamente incorreto para um determinado grupo da sociedade por significar "tornar negro" em sentido pejorativo, da mesma forma a palavra "judiar". Esse tipo de policiamento que faz exigir a restrita literalidade de uma determinada palavra, extermina algo que é natural da língua: a riqueza da multiplicidade de sentido. Sob esse tipo de imposição já surgiram até ideias de reescrever ou corrigir obras de Monteiro Lobato, Shakespeare, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, retirando delas citações hoje referendadas como racistas e preconceituosas. O sistema do politicamente correto, imposto ao extremo, é repressivo e até psicótico, que faz da comunicação um processo impossível despertando inevitavelmente incômodo e ofensa a quem ouve, vê ou lê. Esse extremismo destrói o convívio e cria universos fechados onde um grupo não se comunica com o outro pelo risco da ofensa e suas consequências.

SOCIOLOGIA DO MIMI

Luiz Felipe Pondé escreveu sobre o que chamou de sociologia do Mimi. Em linhas gerais o sentido da tese é que atualmente as pessoas se ofendem com tudo, principalmente quando numa fala contrária aos interesses de um determinado grupo minoritário. Obviamente que alguém rir de você e não com você é extremamente desagradável. As pessoas deveriam aprender a não maltratar as outras, a não tirar sarro delas, e nem serem grosseiras. Mas a lacração derivada do "politicamente correto" tem servido para inviabilizar o debate público. Conflitos relacionais sempre existiram e aprendemos com nossos pais e professores a não usar apelidos ruins, a não ridicularizar os colegas. Isso é correto. Mas o que não tem funcionado é a exigência do politicamente correto como objeto de censura, de ação jurídica, impossibilitando a livre expressão. A fala de cada um de nós poderá ecoar ofensivo ao outro, ainda que não seja a intenção. O nosso desafio social sempre foi o de tolerar e respeitar o dissenso. Não digo contemporizar a ofensa, mas ao menos a opinião contrária que o politicamente correto não tem permitido. Apesar que o cristianismo até a agressão ordena suportar. A verdade é que somos mais propensos a tolerar idéias alheias quando toleram as nossas. A psicologia elucida que quando uma pessoa vê suas idéias sendo censuradas, a tendência é que reforce-as ainda mais e até de forma agressiva. A falta de liberdade imprimida pelo politicamente correto tem se tornado uma ferramenta de censura e intimidação, restringindo a liberdade de expressão em favor de uma uniformização - pensamento de manada - robôs padronizados. Se o indivíduo não tiver a liberdade de falar o que pensa, perderá a capacidade de pensar. A ideia de ser lícito somente naquilo que me agrada e o que me ofende deve ser proibido, é antagônico à liberdade e aos ensinamentos de Jesus - inclusive ele nos ensinou a defender a liberdade de expressão, inclusive daqueles que nos ofendem, vencendo no amor. A liberdade de expressão não deve existir para apenas proteger aquilo que nos agrada, mas inclusive para proteger da censura quem nos ofende.

SATANOFOBIA Uma situação hipotética, mas uma tendência: Quantos satanistas há no mundo? Quantos são servos do "coisa-ruim"? Rodrigo Silva em seu blog comenta que de acordo com o livro "The Invention of Satanism", publicado por Oxford, o culto ao "tinhoso" tem crescido entre os jovens. Esses não deveriam ser incluídos? Sim. Mas caso se articulem politicamente, amanhã ninguém irá poder dizer que o diabo é mau. Uma loucura! Em nome do politicamente correto adoradores de Satanás poderão reivindicar o direito do diabo não ser discriminado. Silva diz que será uma "satanofobia". Em Scottsdale, cidade do Arizona nos EUA, você será processado se disser que o diabo é mau. A impossibilidade do contraditório deturpa as realidades e silencia opiniões. Por aqui, defender uma cosmovisão bíblica já o faz passivo de lacre e julgamento por minorias. O politicamente correto é um conceito que alça a bandeira do respeito, mas se tornada em "polícia do pensamento antagônico" será destrutivo.

 Hugo Evandro Silveira

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril.

E-mail: hugoevandro15@gmail.com

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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