Ao passar os alimentos e o ar pela garganta, precisam ser purificados, limpos e melhorados. Respiramos mais de 10 mil litros de ar por dia, com partículas, pólens e vírus, que rapidamente atingem a garganta, isto sem contar os alimentos que passam pela boca e orofaringe.
O estreitamento chamado garganta está circundado por acúmulos submucosos de tecido linfoide carregados de células imunológicas para reconhecer e combater o que passa de ruim por ali. Nos filmes de ação, as tocaias e os ataques surpresas são feitos em locais estreitos e profundos, sem contar que são escuros e sombrios. Embora a maioria do que passa pela garganta não seja agressivo, a parte perigosa requer respostas inflamatórias e imunológicas rápidas e eficientes.
TONSILAS OU AMIGDALAS?
Quando localizadas e formam protuberâncias, este tecido linfoide é chamado de tonsilas, um termo que significa elevações em superfícies. Hipócrates comparou-as com um cogumelo esponjoso do tamanho de uma amêndoa, talvez daí apareceram os termos “carne esponjosa” e “amigdala”, um diminutivo desta castanha.
Com o final da idade média (476 a 1453), e não faz tanto tempo assim, passou-se a ter permissão para dissecar corpos humanos em estudos e detecção das doenças que provocaram a morte. Mas não havia anatomistas formados para isto e, os melhores descritores das partes e órgãos foram os botânicos.
Os nomes escolhidos por eles tinham muito a ver com sua formação original e daí houve a colocação de nomes como batata da perna, amigdalas, malar ou maça da face. Depois de séculos, orientou-se que nomes vegetais no corpo, fossem trocados por outros mais apropriados. Por isto a orientação, e não uma lei autoritária, para que use tonsila no lugar de amígdala, zigomático no lugar de malar e panturrilha no lugar de batata da perna.
O ANEL DE WALDEYER
A garganta é formada pela faringe e laringe. Na parte posterior, temos as elevações de tecido linfoide, como se fossem murunduns de terra e vegetação no cerrado, chamadas no conjunto, de tonsila faríngea. Também se tem duas tonsilas muito específicas onde se abrem as tubas auditivas, chamadas de tonsilas tubárias. Muitas vezes, a tonsila faríngea é chamada de adenoide.
Na parte posterior, atrás do V lingual, temos o terço da língua que não vemos na frente do espelho, recoberto pela tonsila lingual que, em 25% das pessoas, se derrama e atinge a margem posterior da língua, formando as tonsilas linguais laterais.
Ao lado da úvula, descem dois arcos que alojam bilateralmente as tonsilas palatinas, as que verdadeiramente se parecem com amêndoas pequenas. Quando ficam hiperplásicas, aumentam tanto de tamanho que chegam a obliterar a passagem da garganta.
As tonsilas não são contínuas entre si, mas na submucosa da garganta ainda temos o MALT ou Tecidos Linfoides Associados à Mucosa esparramados aleatoriamente por entre as tonsilas, como a completar um anel de defesa na garganta chamado de Anel de Waldeyer. Isto me lembra a saga do “Povo Livre da Terra Média”, na trilogia cinematográfica “O Senhor dos Anéis”.
Um tecido linfoide muito ativo, o Anel de Waldeyer protege e barra ali mesmo muitas impurezas, antígenos e agentes microbianos, antes que sejam engolidos ou aspirados para os pulmões. É quase um sistema imunológico paralelo ao sistêmico. São captados pelo epitélio da mucosa e no local já apresentado as células imunológicas das tonsilas. É um importante componente da defesa, mas às vezes, inflama tanto e com tanta frequência, que o profissional opta em remover para alívio do paciente, especialmente crianças e adolescentes.
REFLEXÃO FINAL
O anel de Waldeyer além de participar da imunidade sistêmica, tem uma função local muito especial: ele oferece respostas rápidas e eficazes contra quem entra via bucal e nasal, representando um perigo para o sistema. Valorizemos a garganta, pois é muito seletiva com as partículas e moléculas que entram, pena que nem tanto com as palavras e frases que saem. Cuidemos!
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