NOSSAS LETRAS

Sobre linguagem de animais

Por Mario Eugênio Saturno | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 2 min
Pixabay

O estudo científico dos grandes macacos vem descobrindo novas semelhanças com os humanos, o que implica em um ancestral comum, apesar de que haja quem insista que o homem foi criado por último, o que implica que Deus aproveitou o projeto do chimpanzé melhorando 1% do genoma ou 35 milhões de nucleotídeos.

No último 26 de novembro, a PLOS Biology (revista científica de acesso aberto publicada pela Public Library of Science - PLOS) publicou o artigo "Humans and great apes visually track event roles in similar ways" (humanos e grandes primatas rastreiam visualmente os papéis em eventos de modos semelhantes) de Vanessa A. D. Wilson et all.

A linguagem é considerada única aos seres humanos. Um mecanismo importante é a tendência de falantes e ouvintes a decompor eventos em relações agente-paciente. Por exemplo, em uma sentença como “Alice pegou a lagarta”, Alice é a agente, e a lagarta, a paciente.

Ao apreender o essencial de eventos em imagens estáticas, as pessoas tendem a identificar os agentes mais rapidamente do que os pacientes e o fazem quase instantaneamente, com pouca variação entre culturas e línguas. A identificação inicial de agentes é tipicamente seguida por uma atenção distribuída entre agentes e pacientes.

Embora seja evidente que os animais percebam os participantes de eventos, sua atenção pode ser absorvida pelos atributos sociais dos participantes, como suas identidades, papéis sociais ou intenções comportamentais.

A hipótese testada é que os animais são capazes de decomposição de eventos semelhante à humana, mas não possuem motivação ou recursos para comunicar relações agente-paciente. Para explorar isso, testaram como participantes de espécies de hominídeos próximos perceberam uma variedade de eventos naturais.

Compararam respostas visuais a videoclipes curtos entre membros de quatro gêneros de grandes primatas: humanos (Homo sapiens), chimpanzés (Pan troglodytes), gorilas (Gorilla gorilla) e orangotangos (Pongo abelii). Também testaram os bebês humanos de 6 meses de idade, antes de começarem a usar ativamente a linguagem e enquanto ainda desenvolvem habilidades de processamento linguístico.

Humanos adultos e primatas não humanos focaram inicialmente na ação, alternando entre agentes e pacientes de forma consistente com a codificação relacional, como ocorre quando humanos descrevem ações em imagens estáticas. Já em vídeos com comida, humanos e primatas mostraram um viés claro para agentes no início da ação, mais pronunciado em humanos.

Agentes agindo sobre pacientes inanimados foram mais fáceis de identificar do que em interações sociais, sugerindo que a natureza do paciente influencia a expectativa sobre a agência. Humanos adultos focaram mais em agentes e pacientes, enquanto os primatas exploraram mais outras áreas, especialmente os orangotangos. Essa diferença pode ter origem na detecção de olhares devido ao equipamento ou menor amostra de dados.

Bebês humanos de seis meses focaram mais em informações de fundo, ao invés de agentes ou pacientes, sugerindo dificuldades em processar eventos dinâmicos complexos.

Mario Eugênio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano (mariosaturno@uol.com.br)

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