OPINIÃO

Os sinais da Alemanha, os brasileiros e seus sonhos

Por José Ronaldo Marques da Silva, o Boizinho | Presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros*
| Tempo de leitura: 3 min

O carro no Brasil é status e sonho. Desde os anos 50, quando a indústria automobilística começou a montar os primeiros veículos no Brasil, passamos a ter no imaginário os símbolos de progresso, inovação, modernidade e independência. A maioria de nós, afinal, ainda sonha em completar os 18 anos para ter uma CNH e comprar o primeiro veículo.

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Não por menos, foi essa cadeia automotiva que ajudou a construir regiões econômicas, como a do ABCD, influiu na modernização do sindicalismo brasileiro e criou toda uma cadeia que, em síntese, é um dos principais termômetros socioeconômicos brasileiros. 

Os últimos meses têm sido de otimismo. Na sua carta mensal com dados do setor, a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) divulgou que a produção de carros e caminhões está em alta. Mantinha, conforme os últimos dados, de setembro, 106.371 empregos diretos.

Se se considerar que o impacto indireto é de 10 vagas para cada emprego direto, tem-se que, no Brasil, são mais de um milhão de postos de trabalho — ou, melhor dizendo, mais de 1 milhão e 100 mil famílias, tudo somado, dependem da produção, vendas, transporte e importação de veículos. 

Dentre tantos, mais de 1200 atuam no transporte de carros zero, representando uma nação de mais de 3700 cegonheiros, contando-se aí tanto os donos das cegonhas quanto os colaboradores que atuam no ramo. E, por isso, chamou a atenção as notícias que vêm da Alemanha, mais especificamente da Volkswagen, talvez a empresa mais presente na história emocional dos brasileiros que amam o universo dos carros.

As notícias merecem atenção. Serão provavelmente mais de 100 mil operários alemães desligados, de um total de 300 mil mantidos pela multinacional criadora do Fusca. Os que sobreviverem empregados nas plantas terão redução de 10% de remuneração.

A queda de produção, fator desencadeador do fenômeno é, como sabemos, a concorrência brutal da eficiente indústria chinesa. Da mesma forma que as também alemãs Mercedes-Benz e BMW, a Volkswagen vive um declínio nos lucros. A empresa alemã projeta uma margem de lucratividade operacional em torno de 5,6% em 2024, abaixo da previsão anterior, que variava de 6,5% a 7%.

As perdas não são pequenas. Em outubro, por exemplo, a Porsche, que é majoritariamente controlada pela Volkswagen e atua no mercado de luxo, divulgou uma queda de 41% no lucro trimestral. 

O que acontece na Alemanha não necessariamente vai se reproduzir no Brasil. Por aqui, recordes de investimentos foram anunciados neste 2024. Um pacote de mais de R$ 130 bilhões na construção de novas fábricas. Algo que deve aumentar substancialmente a produção.

Se tudo der certo, teremos manutenção ou aumento no nível de empregos e negócios indiretos criados. E aqui entram exportações, importações, transportes, concessionárias, indústria de reposição de peças e outras tantas atividades relacionadas.

Mas se a Alemanha nos traz alguma lição, ou alerta, é a de que o Brasil precisa ser vigilante, com uma política industrial de preservação do parque nacional. Algo que seja administrado com responsabilidade, com a participação de todos os atores que dependem do setor.

Do governo, a política setorial tem-se mostrado eficiente. Créditos com juros acessíveis, afinal, impulsionam as compras e todos os nós da rede da cadeia automotiva. Sim, é preciso, ainda, juros mais baixos. Da mesma maneira, tem que se ter um crescimento sustentável, em linha com a adoção de combustíveis mais limpos e menos emissão de poluentes.

 A principal preocupação, ainda na mesma toada, é com os impactos sociais positivos da indústria. Manter e aumentar os empregos, com crescimento, é a receita para que se mantenha forte uma indústria que continua a movimentar os brasileiros e seus sonhos

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