O vereador Antônio Edwaldo Dunga Costa (União Brasil), de Araçatuba, prestou “auxílio material” para faccionados do PCC realizarem um protesto em Brasília contra o fim das ‘saidinhas’. O evento foi organizado por ordem da cúpula da facção. A informação foi divulgada pelo Estadão nesta sexta-feira, 6, em reportagem assinada por Pepita Ortega, Fausto Macedo, Marcelo Godoy e Heitor Mazzoco.
O jornal atribui a informação ao Ministério Público estadual que, na manhã desta sexta comandou a Operação Ligações Perigosas para investigar o “grau de penetração” do PCC no mandato de Dunga. O vereador foi preso durante a ofensiva por porte ilegal de arma de fogo e posteriormente solto, neste sábado, 7, após audiência de custódia no Fórum de Araçatuba.
Segundo a matéria, o envolvimento de Dunga com o protesto do PCC em Brasília foi identificado quando a Polícia Civil de Araçatuba apreendeu, em maio deste ano, o celular de um faccionado, identificado como ‘Tchok’. No aparelho, os investigadores encontraram um grupo de WhatsApp formado por integrantes do PCC e pessoas que participaram de uma manifestação em Brasília no dia 29 de abril, contra o fim das saidinhas.
Segundo a Promotoria, o PCC organizou protestos e disponibilizou ônibus com todas as despesas pagas para levar manifestantes de diversas regiões de São Paulo até Brasília. No celular de ‘Tchock’, a Promotoria encontrou diálogos sobre a organização da excursão para a capital do País. As mensagens envolvem outros dois faccionados, ‘Zeus’ e ‘Neblina’, este responsável pela contratação de ônibus que levaram ‘soldados’ do PCC e “simpatizantes” do crime organizado para o protesto. Uma mulher, Andrea, também teria colaborado na organização da caravana, segundo a investigação.
Nos diálogos recuperados pela Operação Ligações Perigosas, Andrea e ‘Tchock’ detalham a logística da excursão até o ponto de encontro dos ônibus. Eles falam também que seria preciso conseguir um isopor para acondicionar bebidas e lanches na viagem. Nesse contexto, Andrea diz ao “cunhado” que ganhou 96 copinhos de água e que só era preciso “buscar”. Ela passa um endereço a ‘Tchock’ e diz que lá deve falar com a “Lena, mulher do Dunga”.
Os investigadores descobriram que o endereço passado por Andrea como fonte da doação de água é a sede da Associação dos Investigadores da Polícia Civil de Araçatuba, administrada por Dunga, de onde ele gravou vídeo sobre a operação, referindo-se ao local como "clínica".
Segundo a Promotoria, o diálogo indica que houve a ‘doação’ de 96 copos de água por Dunga para os organizadores da excursão. ‘Tchock’ pediu a uma terceira pessoa para buscar a água. Em áudio, ele afirmou. “Ô irmão, fala lá que é doação de água lá pra Salomé, pra cunhada lá, entendeu irmão, é o Dunga lá, acho que é a esposa do Dunga lá entendeu.”
Para o Ministério Público, as conversas recuperadas são mais um indício da ligação de Dunga com o PCC, um dos principais pontos sob investigação da Operação Ligação Perigosa. A Promotoria vê “perigosa proximidade” da facção com o vereador de Araçatuba.
Os investigadores suspeitam que Dunga “se envolve diretamente em questões afetas ao crime organizado” na região. A Promotoria vê infiltração do PCC na ‘cena política’ da região. Segundo os promotores do Gaeco - braço do MP que combate o crime organizado - há evidências de que um assessor próximo de Dunga, Paulo Giovane de Aguilar, seria integrante do PCC.
Aguilar teria atuação direta no tráfico de drogas na cidade, “tudo com o conhecimento do vereador e sua complacência”.
“O que nos gerou grande preocupação foi a participação muito próxima do indivíduo assessor parlamentar por muito tempo que ocupou o cargo de chefia de gabinete junto ao tráfico de drogas aqui na região, bem como a organização criminosa Primeiro Comando da Capital”, disse o promotor de Justiça Carlos Bruno Gaya ao Jornal da Band.
Dunga desmente acusações em vídeo
Em gravação divulgada em suas redes sociais, Dunga atribuiu a um ex-assessor que teria deixado o cargo "há dois anos e pouco", sem mencionar nome, o alvo de mandado de busca e apreensão na operação "Ligações Perigosas" na manhã desta sexta-feira em Araçatuba.
“Estou firme, sou igual massa de pão, quanto mais bate, mais eu cresço”, diz Dunga na publicação. Ele disse que estava "sentado na clínica" [sede da Associação dos Investigadores da Polícia Civil de Araçatuba] e conclama os eleitores a "fazer do limão, limonada", referindo-se às eleições de 6 de outubro, nas quais ele é novamente candidato.
Dizendo que "o ser humano está cheio de maldade", Dunga procura tranquilizar os eleitores dizendo que está bem e não está associado a tráfico de drogas nem a homicídio. “Se fui alguma vez em porta de delegacia foi como advogado para defender algum cliente”, disse. Dunga disse ainda que nada foi encontrado na Câmara Municipal durante a Operação, que "na clínica tem dinheiro sim" [foram apreendidos R$ 26 mil em espécie] e que ele tem arma porque é policial, em menção à arma com numeração raspada que deu motivo à sua prisão por ser ilegal.
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Matéria atualizada às 12h46
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