Na última semana, participei do Rio Innovation Week, com a missão de conhecer Dra. Vandana Shiva, física, ativista ambiental e filósofa. Sua luta contra o patenteamento de sementes pelas grandes empresas multinacionais e defesa dos pequenos agricultores na Índia é notória e Dra. Vandana é uma líder mundial em prol dos direitos ambientais.
PHD em Física pela Universidade de Western Ontário, Canadá, ela é diretora da Fundação de Pesquisas em Ciência, Tecnologia e Ecologia em Nova Dhéli e fundadora da ONG Navdanya, em defesa da agrobiodiversidade.
Com uma fala ímpar, doce e rápida, Vandana Shiva fez questão de se deslocar de política no reles conceito em que atuamos. Ela está preocupada com o futuro do planeta, com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e de preservar os direitos da terra e de seus produtos.
Defensora da agricultura orgânica, a física afirmou conceitos calcados na milenar sabedoria da ayurveda, mas que vem ao encontro do que os grandes chefs e cozinheiros, como Bela Gil e Rita Lobo, defendem, como o consumo de produtos naturais, com o banimento dos ultraprocessados industriais. Vandana afirmou que comer é um ato político e de consciência. E, como física quântica, afirmou o que já desconfiamos, que o uso de pesticidas, mudanças genéticas nas sementes estão pouco a pouco nos adoecendo.
Ao tentar ser enredada pela divisão maniqueísta da política atual, a ambientalista afirmou que as grandes mudanças sempre começam pelo microcosmo. “A sobrevivência do planeta não passa pela discussão político macro. É preciso convencer os pequenos agricultores de produzirem sem agrotóxicos, de os consumidores locais preferirem se alimentar de seus parceiros. Quando as mudanças começam no microcosmo, elas engajam o macro, é só uma questão de tempo.”
Vandana está conectada com a Terra como organismo vivo. Durante alguns minutos falou sobre Pachamama, a deidade feminina dos Andes. Para a filósofa, a sobrevivência do planeta está inter-relacionada com a liderança feminina, com o centramento das atividades econômicas (principalmente rurais) nas mãos das mulheres.
Em um ambiente digital, que promove a dispersão e a desconexão com outros seres, Vandana é uma voz destoante. Para ela, a verdadeira conexão está em promover laços reais com outros seres, com o modo de produção e com a terra. Pode parecer utopia, mas é ciência. A verdadeira mudança começa com você.
Ariadne Gattolini é jornalista, escritora e pós-graduada em Sustentabilidade Corporativa e ESG pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
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