POLUENTES

Qualidade do ar em Jundiaí é ruim na estimativa e boa na medição

Por Nathália Sousa |
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação / Prefeitura de Jundiaí
Os extremos relatados na cidade se devem ao método, pois há medição diária e estimativas calculadas
Os extremos relatados na cidade se devem ao método, pois há medição diária e estimativas calculadas

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a qualidade do ar em Jundiaí é quase sempre boa, como nesta quarta-feira (17). O Índice de qualidade do ar do Brasil (IQAr), feito pelo órgão, mede poluentes como partículas em suspensão (PM), dióxido de nitrogênio (NO?), ozônio (O?), monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO?). Em Jundiaí, a unidade de medição fica no Bolão, no Anhangabaú.

Já de acordo com o painel VigiAr, feito pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, a qualidade do ar não vai tão bem na cidade e nos municípios da região. Em 2023, a quantidade de MP 2,5 no ar da cidade, que são micropartículas, geralmente de carbono, estava na pior classificação, a vermelha, com média de 39 µg/m³. Ainda segundo estimativa do VigiAr, a poluição em Jundiaí matou mais de 7 mil pessoas na cidade entre 2010 e 2021, por causas como doenças pulmonares, inclusive câncer, infecções nas vias aéreas e também doenças no sistema circulatório.

O que explica?

Sobre a discrepância nos dados do Cetesb e do VigiAr sobre a qualidade do ar em Jundiaí e região, a gerente da divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, Maria Lúcia Guardani, diz que a diferença é o método. “Temos uma estação no Bolão e medimos vários poluentes ao mesmo tempo, MP 2,5, MP 10, que é a partícula maior, mas também inalável, medimos ozônio e óxidos de nitrogênio, fora os dados meteorológicos. Isso é fornecido por um laboratório automático que aspira o ar e gera um relatório de hora em hora. Esse resultado é divulgado pela Cetesb no site, no aplicativo e no Google. São dados medidos por equipamentos normativos, utilizados no mundo inteiro, inclusive nossos dados também são enviados para a OMS.”

“O que o VigiAr divulga são dados estimados, baseados em modelos matemáticos aplicados, mas esses modelos precisam ser calibrados para que tenham melhor resolução. Em 2023, a concentração de MP 2,5 em Jundiaí foi de 12 µg/m³, já no VigiAr, está 39 µg/m³, é mais que o triplo. Hoje, vemos que isso não corresponde ao ar que as pessoas estão respirando na região de Jundiaí. E como posso comparar o ar de Itupeva ao de Jundiaí? Não podemos esperar que o ar dessas duas cidades seja igual”, diz ela sobre a cidade vizinha que também teve concentração de 39 µg/m³ de MP 2,5 em 2023, segundo o VigiAr.

A especialista diz, porém, que o período de inverno costuma ter mais concentração de poluentes na atmosfera. “Quando o estado estava na estiagem, foi bastante complicado, porque o ar sempre saía da qualidade boa e entrava na moderada. Mas algo que melhora o ar também e o vento, que dispersa poluentes. Veio a chuva e melhorou o ar, porque a chuva lava a atmosfera. Partículas, principalmente as menores, caem lentamente e, se estão no chão e passa um veículo, elas são suspensas de novo. Se não chove, há mais concentração, por isso a qualidade do ar oscila.”

Saúde

Pneumologista, Ericson Bagatin diz que os poluentes encontrados no ar pioram a saúde da população se estão em concentração maior, como acontece no inverno. “Quem tem problemas respiratórios, como asma, enfisema pulmonar, piora muito nessa época do ano, assim como crianças e idosos. Vão mais aos hospitais. A poluição também aumenta a morbidade. No período de poluição mais intensa, tem aumento do adoecimento e da mortalidade, a poluição agrava doenças, então tem todo o impacto na saúde.”

O médico diz que os compostos no ar são todos nocivos, mas cada um tem uma toxicidade. “A concentração de poluição tem vários componentes, como nitrogênio, carbono. O MP 2,5 é material particulado mais fino, basicamente à base de carvão. A medição de poluição é polêmica, porque depende da maneira que é calculada. O padrão para analisar a poluição é a concentração de ozônio, material particulado e compostos de nitrogênio e enxofre. Mas o ozônio é geralmente a medida de qualidade do ar, porque é um gás que, acima de determinadas concentrações, é tóxico.”

“Quando você analisa composição do ar, tem CO, CO?, óxido de nitrogênio, ozônio e composto de nitrogênio e enxofre. E tem material particulado, que é basicamente carvão, fuligem. Essas substâncias agem juntas, não tem como separar, todas agem de acordo com sua toxicidade”, explica.

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários