
Por trinta dias, o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), teve seu telefone grampeado pela Polícia Federal. As escutas, autorizadas pela Justiça, fizeram parte do período de investigações prévias na operação “#TudoNosso” deflagrada no dia 13 de agosto e que chegou a levar 15 pessoas à cadeia. Atualmente, cinco continuam presas preventivamente. Elas são acusadas de fazer parte de um suposto grupo que teria promovido desvio de recursos públicos por meio de “empresas laranjas” que seriam ligadas ao empresário e sindicalista José Avelino Pereira, o Chinelo, que é um dos que estão presos.
A Folha da Região teve acesso, com exclusividade, à decisão do desembargador federal José Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que negou que o “grampo” fosse renovado por mais 15 dias.
No despacho, Lunardelli deixa claro que todo o conteúdo recolhido no mês de escutas não só não criou provas contra Dilador, como também revela que ele estaria descontente com serviços prestados ao município, ameaçando até romper com o contrato.
Ao negar o pedido de nova escuta legal, o desembargador afirma que “ao fim de duas quinzenas de interceptações – com diversos resultados aparentemente pertinentes ao objeto destas investigações – não surgiram indícios sólidos que corroborassem aqueles elementos iniciais”. Ou seja, passado o primeiro período de 30 dias de escutas, nada fora encontrado que justificasse uma nova escuta.
Lunardelli, no entanto, vai além em sua decisão. De acordo com o documento a que a Folha da Região teve acesso, Dilador teria reclamado acerca da má qualidade dos serviços prestados.
Na escuta, ainda há um diálogo entre Dilador e o próprio Chinelo, que de acordo com o desembargador “nada diz com os fatos” investigados. “A própria ausência de contatos que sejam constantes ou que fujam a temas específicos denota não haver intimidade pessoal ou algo mais que aliança política”, diz um trecho da decisão do desembargador federal.
O CASO
A operação “#TudoNosso” investiga um possível esquema de desvio de recursos públicos na cidade de Araçatuba. Segundo a PF, um grupo utilizava empresas registradas em nomes de “laranjas” e familiares para fraudar licitações e celebrar contratos com o município. As investigações identificaram negociações suspeitas, fechadas nos últimos dois anos, nas áreas de educação e assistência social. Os valores dos contratos superam R$ 15 milhões, indicou a Polícia Federal.
Cerca de 150 policiais federais cumpriram, naquele dia, 14 mandados de prisão temporária e 37 de busca e apreensão em Araçatuba, Clementina, Itatiba, Jundiaí e São Paulo. No dia seguinte, mais duas pessoas foram detidas.
As ordens foram expedidas pela Justiça Federal de Araçatuba, que determinou ainda o afastamento cautelar dos servidores públicos municipais investigados, contudo, o prefeito Dilador Borges, antes mesmo, exonerou os envolvidos.
A Polícia Federal aponta Chinelo como possível líder da organização criminosa e idealizador de esquema que envolvia empresas ligadas a ele e sua família. O empresário, que mora em Itatiba, seu filho e seu genro foram alvos das prisões decretadas pela Justiça Federal.
Investigação
As investigações tiveram início há aproximadamente dois anos, após a Polícia Federal receber informações que indicaram a contratação fraudulenta de empresas que prestam serviços para a Prefeitura Municipal de Araçatuba.
Segundo a PF, o filho e o genro do líder do grupo seriam sócios “laranja” de empresas. As investigações identificaram que o empresário seria o dono de ao menos cinco companhias, ainda que não estivessem registradas em seu nome. “A maioria dos sócios apenas ‘emprestam’ seus nomes em troca de vantagens do líder da organização criminosa”, indicou a corporação.
Além das empresas, o líder do grupo teria criado pelo menos uma organização social para desviar os recursos públicos, indicou a PF. De acordo com a corporação, servidores públicos teriam sido indicados a setores estratégicos no município para viabilizar as contratações e fraudes sem levantar suspeitas ou questionamentos sobre eventuais superfaturamentos.
A Polícia Federal indica que, por conta de sua “forte influência política na região”, o empresário e líder do grupo, indicou pessoas de sua confiança para ocupar cargos de livre nomeação na Prefeitura.
“Com pessoas ligadas ao grupo criminoso atuando diretamente, e com poder de decisão, dentro de secretarias municipais, o empresário conseguiu livre trânsito, articulação e informações privilegiadas relacionadas aos contratos com a municipalidade”, afirmou a PF.
Segundo a Polícia Federal, o nome da operação, “#TudoNosso”, faz alusão a termo utilizado pelos investigados, inclusive em redes sociais, quando “obtinham sucesso” nas fraudes cometidas no âmbito da Prefeitura de Araçatuba.
A corporação indicou que os presos podem ser indiciados por corrupção ativa e passiva, falsificação de documentos (públicos e privados), peculato, associação criminosa, fraudes em licitações, dentre outros.
PF prorroga inquérito da operação #TudoNosso
A PF (Polícia Federal), prorrogou por mais 15 dias o inquérito da operação #TudoNosso. O prazo para a conclusão das investigações era até a última terça-feira (27). A solicitação foi feita para que haja maior análise nos documentos e itens apreendidos. A prorrogação é possível porque, neste caso cinco, dos envolvidos continuam presos. Entre os acusados que permanecem presos estão o sindicalista e empresário, José Avelino Pereira, conhecido popularmente como Chinelo, seu filho, Igor Thiago Pereira, o ex-assessor executivo da secretaria de Governo, Thiago Henrique Braz Mendes, a ex-diretora da secretaria de Assistência Social, Silvia Aparecida Teixeira, e o ex-servidor José Cláudio Ferreira, conhecido como Zé Pera.
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