O debate sobre a “adultização” precoce de crianças e adolescentes nas redes sociais ganhou força na Câmara dos Deputados após denúncias graves feitas pelo influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. Em um vídeo divulgado na última quarta-feira (6), com mais de 50 minutos de duração, ele expôs casos de sexualização infantil que teriam como protagonistas influenciadores brasileiros, apontando inclusive uma possível rede de pedófilos.
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Com cerca de 13 milhões de seguidores no YouTube e Instagram, Felca revelou como jovens são expostos de maneira sexualizada, denunciando o influenciador Hytalo Santos como um dos principais responsáveis por esse tipo de conteúdo. Segundo ele, o material não apenas promove a sexualização de crianças e adolescentes, mas também é consumido por um público adulto, incluindo homens com perfil pedófilo.
A acusação provocou a remoção do perfil de Hytalo Santos no Instagram poucos dias depois, embora ainda não se saiba se a página foi excluída pela plataforma ou desativada pelo próprio influenciador. Paralelamente, Hytalo enfrenta investigação do Ministério Público da Paraíba, que apura suspeitas de exploração sexual envolvendo menores sob seus cuidados, incluindo casos de gravidez de adolescentes ligadas a ele.
Em resposta às denúncias e à comoção pública, o deputado federal Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) protocolou na segunda-feira (11) um requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue as denúncias feitas por Felca. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o tema será prioridade no plenário. Ele destacou que mais de 30 milhões de pessoas já assistiram ao vídeo do influenciador, demonstrando a urgência da pauta.
Até o final daquela segunda-feira, 13 projetos de lei relacionados à proteção de crianças e adolescentes contra a adultização e exploração sexual online já haviam sido apresentados. Entre eles, está um projeto de lei aprovado no Senado em dezembro, de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que estabelece regras rígidas para combater conteúdos de exploração sexual infantil no ambiente digital. Para virar lei, o texto aguarda tramitação na Câmara, onde ganhou forte apoio político e requerimento de urgência apresentado pela deputada Laura Carneiro (PSD-RJ).
O termo “adultização” refere-se ao fenômeno em que crianças e adolescentes passam a se comportar e a ser expostos de maneira similar a adultos, especialmente em contextos sexuais, influenciados pelo conteúdo consumido e produzido nas redes sociais. Essa prática preocupante tem gerado debates intensos, pois não só expõe os jovens a riscos emocionais e físicos, como também fomenta uma indústria bilionária, alimentada pelo engajamento em plataformas digitais.
O caso que envolve Hytalo Santos ganhou notoriedade após denúncia anônima encaminhada ao Ministério Público da Paraíba. A promotora Ana Maria França, responsável pelo inquérito, investiga se o influenciador explorava adolescentes que vivem sob seu cuidado, incluindo Kamyla Maria Silva, conhecida como Kamylinha, uma das jovens adotadas por ele e que recentemente anunciou gravidez — notícia que gerou ainda mais controvérsia, especialmente após o aborto espontâneo informado em maio.
Com o clamor público e a mobilização da Câmara, especialistas e autoridades reforçam a necessidade de legislação eficaz para controlar e coibir a exploração sexual infantil no meio digital, equilibrando a liberdade de expressão e a segurança das crianças. A expectativa é que a CPI e os projetos de lei em tramitação possam estabelecer mecanismos de fiscalização, punição e prevenção mais rigorosos.