A Editora Kotter, sediada em Curitiba, anunciou o cancelamento do “Prêmio Kotter 2025” após detectar que diversas obras inscritas foram produzidas com o auxílio de Inteligência Artificial (IA). O comunicado oficial foi divulgado nas redes sociais na última sexta-feira (4) e rapidamente provocou debates entre participantes e seguidores do concurso.
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Neste ano, o prêmio recebeu cerca de 900 inscrições inéditas nas categorias de literatura, filosofia e política. Segundo o fundador da editora, Salvio Kotter, aproximadamente 40 dessas obras apresentaram evidências claras de terem sido geradas por IA — como comentários inseridos pela própria ferramenta. Outros 60 textos exibiram sinais suspeitos, ainda que não conclusivos.
A avaliação do material, explica Kotter, tornou-se um desafio complexo. “Muitos textos são impecáveis na ortografia, gramática e sintaxe, porém com conteúdo pouco consistente, o que levanta suspeitas”, comenta. Ele também destaca que a IA, embora escreva em português, frequentemente “pensa” em inglês, refletindo-se no uso incomum de certas palavras. Outro indicador é a uniformidade do texto, que mantém um ritmo constante e ‘plástico’, diferente da oscilação natural da escrita humana.
O principal dilema da editora está na impossibilidade de identificar com absoluta certeza quais obras foram criadas por IA, o que pode comprometer a legitimidade do prêmio. “O avaliador fica entre a cruz e a espada: teme desclassificar um texto humano e premiar um gerado artificialmente, como já ocorreu no Japão, onde um livro escrito com auxílio do ChatGPT venceu um prêmio literário renomado”, exemplifica Kotter. Diante disso, a organização decidiu suspender a edição deste ano e está estudando novas regras e ferramentas para aprimorar os critérios de avaliação no futuro, com a intenção de retomar o concurso em 2026.
Para a Editora Kotter, a presença crescente da IA no processo criativo é um desafio inevitável para o mercado literário. Recentemente, a editora publicou um livro de poemas em que parte do conteúdo foi produzida por IA, deixando claro ao leitor essa mistura e provocando uma reflexão sobre a autoria e originalidade.
Salvio Kotter pondera que, apesar das facilidades que a tecnologia oferece, as grandes obras literárias jamais poderão ser reproduzidas por máquinas, pois elas quebram padrões e inovam — algo que a IA, baseada em algoritmos e modelos pré-estabelecidos, não consegue replicar.