Consideradas comuns no Brasil, as doenças de Parkinson e Alzheimer acometem mais de 150 mil pessoas por ano, cada uma, segundo o Ministério da Saúde. Principalmente os idosos, com idade acima de 60 anos. As duas doenças são conhecidas, também, pelos sintomas clássicos que tomam conta dos pacientes.
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No Alzheimer, questões relacionadas à memória e demência. Já o Parkinson, tem como característica os tremores e a rigidez nos movimentos são considerados sinais clássicos. Mas os efeitos delas são, também, externos: o sofrimento atinge também os familiares dos pacientes que foram diagnosticados.
“Assistir a um familiar perdendo seus domínios, a independência, traz um sofrimento grande”, diz o neurologista Theo Germano Perecin. Porém, segundo o médico, novos avanços em pesquisas da área trazem esperanças para um tratamento eficaz, e que, por vezes, são de fácil alcance para as pessoas. “A atividade física também é extremamente importante no tratamento do Parkinson. No Alzheimer, existe uma linha de medicamentos que são de ordem imunológica que tem se mostrado com uma ação eficiente”, disse o especialista.
Porém, ele garante que uma forma de se prevenir dessas doenças está no estilo de vida saudável: criar bons hábitos, evitar excesso de álcool, tabagismo, substâncias químicas nocivas. Mas ainda há esperança para que uma das bebidas mais consumidas no Brasil tenha um papel importante no desenvolvimento de novos tratamentos. “Tem um trabalho interessante que diz que a ingestão diária da cafeína pode ajudar na prevenção do Parkinson. Isso é interessante e deixa todo mundo feliz, principalmente no Brasil”, disse o médico.
Confira os principais pontos da entrevista do neurologista Theo Germano Perecin ao JP.
Como o Parkinson e o Alzheimer agem? Quais são as principais características de cada uma das doenças? As duas doenças são de caráter neurodegenerativo, progressivo, que interfere na qualidade de vida das pessoas, na autonomia, na capacidade de produção, do trabalho, e que acarreta um impacto muito grande tanto no indivíduo como na família. As duas doenças têm a fisiopatologia diferente. Primeiro, falando do Parkinson, se trata de uma doença neurodegenerativa, com incidência em pessoas com mais de 65 anos, embora apareça em pessoas mais jovens. Ela evolui com sintomas que a gente divide entre motores, como a lentidão, rigidez, tremor, principalmente tremor em repouso, instabilidade postural. E alguns sintomas não motores, como alterações no sono, gastrointestinais, olfato, problemas de ansiedade e depressão. Disfunções cognitivas também podem acontecer no Parkinson, principalmente em fases de evolução mais longa.
O Alzheimer, seria uma doença também de caráter neurodegenerativo, e que acomete inicialmente a questão de memória, orientação espacial, orientação do tempo, linguagem, a capacidade de julgamento, e também até na capacidade de executar as tarefas. Ela se divide, principalmente, em dois grupos, o tardio, em pessoas com mais de 65 anos, e precoce, que seria em pessoas de 30 a 60 anos. Esse segundo caso é mais raro. O Alzheimer é a principal causa de demência. Em torno de 50% de todas as demências são consequência da doença de Alzheimer.
Existe uma frase popular sobre o Alzheimer que diz que quem sofre mais com a doença são as pessoas que acompanham o paciente. Pode-se considerar essa afirmação como verdadeira? No caso da doença de Alzheimer, quando um familiar é acometido pela doença, o paciente sofre, mas toda a família sofre. Você assistir a um familiar perdendo seus domínios, a independência da capacidade de julgamento, memória recente. Por vezes a capacidade do reconhecimento de um familiar próximo, as alterações comportamentais. Isso realmente traz um sofrimento grande para a família. Além disso, também, exige um trabalho muito grande de monitoração da pessoa, pois ela vai perdendo a independência, exigindo um atendimento próximo, um cuidado muito próximo do paciente, que interfere muito na qualidade de vida de toda a família. Realmente, a família toda sente.
O que, exatamente, causa esse tipo de doença nas pessoas? A doença de Parkinson é causada por uma perda de neurônios responsáveis pela produção e liberação de dopamina. E, consequentemente, essa escassez vai causar todos os sintomas relacionados à doença. Pode ser uma combinação de fatores genéticos, pré-disponíveis, e fatores ambientais. No passado foi descrito o contato com alguns herbicidas que no nosso meio já são mais difíceis de encontrar. A idade também é um fator de risco. Em pessoas com mais de 60 anos ela tem uma incidência maior em homens do quie nas mulheres. E, também, uma etiologia genética, complexa, envolvendo vários grupos de genes. Então, tem uma influência hereditária que é em torno de 15% dos casos há a presença de mais pessoas acometidas. Seria uma combinação multifatorial. Fatores genéticos, ambientais, idade, fatores familiares.
Também tem incidência de Parkinson relacionada a traumatismos cranianos repetitivos, como classicamente já foram descritos casos de pugilistas, futebolistas também. Quanto ao Alzheimer, ele tem fatores de risco mais relacionados ao estilo de vida. Por exemplo, doenças que não foram bem tratadas, abuso do alcool, do cigarro, drogas tem relação. E também o fator idade, quanto maior a idade, maior a chance de desenvolver a doença.
Com o avanço da tecnologia e da medicina, percebemos uma melhora no tratamento de doenças que antes eram consideradas incuráveis, como o câncer, por exemplo. Quais foram os avanços da medicina em relação ao Parkinson e ao Alzheimer? Com o Parkinson, se divide entre medicamentos, que agem em diversas situações clínicas. Os remédios que a gente usa tem uma reação melhor conforme os sintomas clínicos. Muitas vezes o paciente precisa de uma combinação de vários medicamentos para atingir vários pontos. A atividade física também é extremamente importante no tratamento do Parkinson. Em casos de difícil controle, reação ruim à medicação, efeitos colaterais ou falta de resposta também no Parkinson existe a possibilidade de realizar o tratamento cirúrgico e também dispositivos estimuladores profundos, que podem trazer uma melhora clínica nesses casos que são de mais difícil controle ou que não há resposta adequada do medicamento.
Quanto ao Alzheimer, o tratamento também envolve uma atendimento multidisciplinar, com a estimulação pela atividade física, terapia ocupacional, social, atividades mentais e medicamentos. São medicamentos para hiperestimular a memória, e às vezes medicamentos para tratar o sono, depressão e por vezes até quadros psicóticos que podem acompanhar a doença durante a evolução.
Pesquisas são feitas intensamente, a nível mundial, para tentar novos meios de se combater a doença, estabilizar ou, quem sabe, até reverter os sintomas da doença, que é devastadora. No entanto, ainda é um desafio. Existe uma linha de medicamentos que são de ordem imunológica que tem se mostrado com uma ação eficiente, embora discreta, em casos recentes, em determinados pacientes que receberam essa medicação. Ainda é precoce para dizer que o tratamento vai ser por esse meio, mas abre uma esperança boa nessa linha de drogas novas que tendem a sair no futuro.
E há alguma forma de se evitar ou, pelo menos, frear o desenvolvimento dessas doenças? No Parkinson basicamente o diagnóstico é clínico: exame físico e análise da história clínica do paciente. Por vezes a gente usa alguns exames para afastar outras doenças ou reforçar o raciocínio. Mas, ainda assim, o diagnóstico é totalmente clínico.
Para se prevenir a doença, seria necessário criar bons hábitos, evitar excesso de álcool, tabagismo, substâncias químicas nocivas. No Parkinson também seria interessante tentar evitar atividades que exponham a traumatismos cranianos repetitivos. E também a necessidade de se tomar cuidado com alguns remédios que são para o tratamento de alguma determinada doença, mas algumas pessoas possuem uma sensibilidade maior e podem desenvolver um parkinsonismo medicamentoso. Nesses casos, o tratamento é simplesmente suspender o tratamento envolvido, e há uma chance de uma resolução total. Tem um trabalho interessante que diz que a ingestão diária da cafeína pode ajudar na prevenção do Parkinson. Isso é interessante e deixa todo mundo feliz, principalmente no Brasil.
O diagnóstico do Alzheimer, também é clínico. A gente estuda para afastar outras doenças. Existem algumas ferramentas que podem ajudar a reforçar o diagnóstico.
Mas o diagnóstico precoce ainda é muito difícil. Mesmo se você fizer exame genético e tendo uma condição genética fortemente favorável, não há certeza de que se desenvolva. No Alzheimer, a prevenção também seria evitar hábitos ruins, álcool, cigarro, substâncias nocivas e tratar muito bem as doenças de base, como a hipertensão, doenças metabólicas.
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