A Green Energy, que ficará responsável por disponibilizar 400 ônibus elétricos para São José dos Campos nos próximos 15 anos, em um contrato de R$ 2,718 bilhões, integra um conjunto de empresas ligadas à família Setti Braga, que atua há exatos 100 anos no transporte público na região de São Bernardo do Campo.
Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp
Atestados de uma das empresas do grupo, a Diastur, por exemplo, foram utilizados para comprovar para a Urbam (Urbanizadora Municipal) que a Green Energy teria capacidade para prestar o serviço em São José.
Além disso, outra empresa do grupo, a Eletra, irá produzir os 400 veículos que serão comprados pela Green Energy e disponibilizados em São José, por meio de locação para a Urbam, que é uma estatal controlada pela Prefeitura.
A família Setti Braga atua no transporte público desde 1925, quando operou uma linha de ônibus entre as atuais cidades de Santo André e São Bernardo. Em 1956, fundou a Viação ABC, que deu origem posteriormente a um grupo de empresas.
Na década de 1990, por exemplo, o grupo operou o trólebus na Grande São Paulo e criou o primeiro ônibus elétrico híbrido no país. Hoje, opera o transporte público em São Bernardo.
Atualmente, o grupo é comandado pelos irmãos João Antonio Setti Braga e Maria Beatriz Setti Braga. Dois filhos de Maria Beatriz - José Romano Netto e Milena Braga Romano - também desempenham papéis importantes.
A Green Energy foi criada em agosto de 2024, em São Paulo, com o nome de Costa Blanca Participações, para atuar como holding de instituições não financeiras (empresa que controla outras empresas).
Em 5 de dezembro de 2024, menos de quatro meses após ser criada, a empresa mudou de nome (para Green Energy) e de diretor-presidente, e teve o objeto alterado para "locação de automóveis sem condutor/locação de outros meios de transporte não especificados anteriormente, sem condutor", que é justamente o serviço a ser prestado em São José. A mudança na empresa ocorreu já com a licitação em andamento. O edital havia sido publicado pela Urbam no dia 12 de novembro.
Desde dezembro, o diretor-presidente da Green Energy é Edinaldo da Silva Carvalho, que ao menos desde a década de 1990 é executivo em empresas do grupo da família Setti Braga.
A Green Energy é uma S.A. (Sociedade Anônima). Para justificar à Urbam os atestados apresentados na licitação, a empresa forneceu à estatal documentos para comprovar que a Green Energy e a Diastur "mantêm relação de grupo econômico".
Pelos documentos, todas as ações da Green Energy são de outra empresa, a Rinjani Empreendimentos e Participações. E a Rinjani e a Diastur são controladas por dois sócios em comum: os irmãos José Romano Netto e Milena Braga Romano - cada um tem 25% da Diastur e 33,3% da Rinjani.
As certidões apresentadas pela Green Energy para a Urbam foram de serviços de transporte escolar prestados pela Diastur em São Bernardo do Campo e em Santo André, além do fornecimento de caminhões em Guarulhos.
Fundada em 2000, em São Bernardo, a Eletra tem como sócios os irmãos João Antonio Setti Braga e Maria Beatriz Setti Braga. Já a presidente da empresa é Milena Braga Romano.
Em 2023, a Eletra inaugurou um novo prédio industrial, que recebeu parte dos R$ 150 milhões do plano de investimentos feito para que a empresa se tornasse a maior fabricante brasileira de ônibus elétricos.
Também em 2023, a Eletra disponibilizou um modelo de ônibus elétrico para testes em São José dos Campos - na ocasião, o veículo circulou pela cidade e pegou passageiros, sem cobrança de tarifa.
Um dos sócios da Eletra, João Antonio Setti Braga esteve envolvido em um dos primeiros casos de denúncias de corrupção em governos do PT.
Em 2002, seis meses após o assassinato de Celso Daniel, então prefeito de Santo André, João Antonio admitiu ter feito pagamentos de R$ 2,5 milhões a secretários do município.
No depoimento, prestado a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara de Santo André, o empresário chegou a especular que Celso Daniel teria sido assassinado por "queima de arquivo" - o que foi descartado pelas investigações.
José Romano Netto, outro proprietário da Green Energy, é conhecido como Zeca e costuma frequentar o noticiário por temas não relacionados ao setor de transporte.
Em 2013, por exemplo, o empresário destruiu uma Ferrari de R$ 2 milhões em um acidente na capital.
Em 2024, um jatinho particular de Zeca foi utilizado pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
Nessa terça-feira (18), Edinaldo da Silva Carvalho e Milena Braga Romano estiveram em São José dos Campos, no evento em que a Prefeitura divulgou detalhes do contrato para a locação dos 400 veículos elétricos.
"Estou aqui representando a indústria de ônibus elétricos. Veículos 100% brasileiros, com motor nacional. Confiança no nosso trabalho", disse Milena. "Setecentos ônibus Eletra feitos por nós rodando no país e fornecendo agora mais 400 [para São José]. Estaremos com 1.100, cerca de 50% dos nossos ônibus elétricos estarão em São José. Projeto inovador da cidade e será um case internacional. A primeira cidade elétrica desse porte e será uma referência para o mundo. Modelo que São José criou vai ser possível ser replicado em outros locais", completou a presidente da Eletra.
"A Green Energy vai comprar os ônibus [da Eletra] e locar para a Prefeitura. Temos experiência em mobilidade, mas esse segmento de inovação estava no plano da empresa. Temos estrutura de grupo e feito com plano estratégico", afirmou Edinaldo.