Preso na quinta-feira (14) dentro do Hospital Fusam, em Caçapava, enquanto trabalhava, o médico cirurgião João Batista do Couto Neto, 46 anos, é alvo de relatos dramáticos de pacientes que passaram pelas mãos dele.
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Ele é investigado em vários inquéritos por ter cometido dezenas de negligências médicas que teriam provocado mortes e mutilações em mesas de cirurgia de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
A polícia suspeita que, ao todo, ele possa estar por trás de pelo menos 42 mortes de pacientes e outros 114 casos de lesão corporal.
Couto Neto teve um mandado de prisão preventiva expedido na quarta-feira (13) pelo juiz Guilherme Machado da Silva, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O médico foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar) pela Delegacia de Novo Hamburgo, com base na conclusão de três inquéritos.
“A decisão não se reveste de qualquer fundamento fático ou jurídico e constitui clara antecipação de pena, com a finalidade de coagir e constranger o médico”, disse o advogado Brunno de Lia Pires, que defende o médico e criticou a prisão.
CIRURGIAS
As investigações são lideradas pelo delegado Tarcísio Kaltbach, da Polícia Civil em Novo Hamburgo. De acordo com ele, o médico chegava a acumular até 25 cirurgias num mesmo turno de plantão na rede particular.
Uma das linhas da investigação é que esse comportamento visava a aumentar os ganhos financeiros, mas levava à negligência e aos erros médicos.
Para o delegado, a quantidade de cirurgias impedia Couto Neto de cuidar corretamente das intervenções e dos pós-operatórios.
“Não conseguimos entender por que ele fazia isso com as pessoas. Às vezes, operava uma região do corpo, mas cortava outra que não tinha a ver com a cirurgia. Houve casos de pessoas que definharam no hospital, morrendo aos poucos. Isso é recorrente nos depoimentos”, disse o delegado.
RELATOS
Pacientes de Couto Neto ouvidos pelo jornal O Globo narram os problemas que passaram pelas mãos do cirurgião.
“A minha mãe foi vítima dele, teve perfurações no estômago e bexiga. Já passou por nove cirurgias e ainda vai fazer outra”, disse Daniel Fernandes.
“É estarrecedor o que ele fazia. Temos fotos de pessoas com a barriga aberta, apodrecendo, e ele não receitava nada, nenhum medicamento. Dizia que não era nada e que tudo ia passar. Temos relatos de tentativa de suicídio dentro do hospital, por causa de tanta dor”, afirmou Kaltbach.
A aposentada Núbia Costa, 72 anos, foi operada por Couto Neto em Novo Hamburgo, em maio de 2021, por causa de uma pedra na vesícula. Ao dar alta, o médico a avisou que havia ocorrido uma perfuração no intestino, mas sem gravidade.
Sem dar atenção à reclamação de parentes, Núbia foi internada novamente, 17 dias depois da cirurgia, com uma infecção generalizada no abdômen. Ela morreu em julho, na cama do hospital.
“Quando minha mãe teve alta, ele disse que tinha perfurado o intestino sem querer, mas que já havia feito a sutura e não teria nenhum problema. Mas ela nunca esteve bem. Ficou sentindo dores abdominais, vomitando. Quando eu trocava mensagens com ele, as respostas eram de que estava tudo normal, ele só receitava chá e leite de magnésia. Houve várias etapas em que poderiam reverter a situação. Mas minha mãe não teve a oportunidade”, disse Cristiana Costa, filha de Núbia.
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