OPINIÃO

Entre sonhos e realidades: o mundo que cabe em um jogo

Por Hugo Coelho | Especial para a Sampi
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução Redes Sociais

O futebol sul-americano é feito de sonhos. Sonhos que nascem nos campos de terra batida, nos gritos das arquibancadas acanhadas, na chama viva da paixão que nunca se apaga. E é com esse espírito que os clubes brasileiros chegaram ao Mundial de Clubes da FIFA, e não só chegaram, como surpreenderam.

Vitórias históricas como a do Botafogo sobre o PSG ou do Flamengo diante do Chelsea inflamaram o coração do torcedor. De repente, voltamos a sonhar alto. A crer que a distância entre o futebol europeu e o nosso não passa de um mito alimentado por cifras e marketing. E, em parte, há verdade nisso. O futebol sul-americano nunca foi pequeno. Sempre fomos capazes de enfrentar os gigantes de igual para igual, quando jogamos com alma, com entrega, com a fúria mansa de quem tem algo a provar.

Mas é aí que mora o perigo: entre a paixão e a ilusão, há uma linha tênue. E nós, latinos de coração quente, às vezes a atravessamos sem perceber. Com uma ou duas boas vitórias, a narrativa muda bruscamente. De repente, o futebol europeu já não serve mais, os nossos são melhores, os nossos são mais puros, mais famintos. O oba oba toma conta, e esquecemos que futebol não é feito só de um jogo, mas de jornada.

É preciso lembrar que este é um torneio de tiro curto. Um formato onde o melhor nem sempre vence. Onde a vontade, o contexto emocional e até o acaso jogam juntos. É por isso que Flamengo e Palmeiras empataram com times da MLS, um campeonato tecnicamente inferior, mas competitivo e organizado. É por isso que o Boca Juniors empatoy contra uma equipe semi amadora da Nova Zelândia. O futebol tem espaço para o improvável e é isso que o torna mágico.

Mas magia não pode ser confundida com cegueira. Quando a Argentina venceu a Copa do Mundo em 2022, perdeu para a Arábia Saudita na fase de grupos. E nem por isso o futebol do Oriente Médio virou parâmetro global. Foi só o futebol sendo o que sempre foi: imprevisível.

Sim, os sul-americanos podem vencer. Sim, podemos ser campeões. Mas isso exige mais do que talento e garra. Exige sobriedade, humildade e foco. Exige respeitar o adversário sem se diminuir. E principalmente, exige não se perder no calor do momento. Uma boa vitória não te faz campeão. Ela apenas te dá o direito de continuar sonhando.

E que continuemos sonhando. Mas com os pés no chão e a cabeça no lugar. Porque quando o coração pulsa no ritmo certo, o impossível se torna só mais um capítulo da nossa história.

Hugo Coelho é um amante dos esportes e escreve sobre histórias, viagens e informações esportivas. Siga em @hugo_coelho88

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