OPINIÃO

O mercado do 'Bem-Estar'

Por Gregório José |
| Tempo de leitura: 2 min
Jornalista

Ah, o Brasil, essa eterna contradição ambulante. Enquanto metade do país ainda reza para afastar as pragas bíblicas, a outra metade está encontrando salvação em um vidrinho milagroso de óleo de cannabis. Ora, vejamos: 430 mil brasileiros estão se tratando com medicamentos à base da planta proibida. Pois é, a erva que antes era chamada de "porta de entrada para as drogas" virou a porta de saída para a farmácia. E não só para ela, mas também para congressos médicos, startups de dados e até para investidores com aquele faro afiado para o verde - não o da mata atlântica, mas o do dinheiro mesmo. Em 2018, esse mercado movimentava módicos R$ 3,7 milhões. Agora, já estamos falando de cifras que chegam perto de R$ 1 bilhão em 2024. A pergunta que fica é: quando foi que o Brasil começou a preferir o lucro ao preconceito? Bem, calma lá, o preconceito ainda está firme e forte. Só que, pelo visto, ele vem perdendo terreno para as notas de cem.

A Kaya Mind, uma startup especializada no mercado da cannabis, diz que se houvesse regulamentação ampla (uso medicinal, industrial e, claro, recreativo), o setor poderia injetar R$ 26,1 bilhões na economia em quatro anos. Só que, nesse ponto, já vejo o político médio brasileiro coçando a cabeça: "E onde é que entra o meu pedaço desse bolo?" Afinal, é difícil pensar em algo produtivo sem a devida 'taxinha administrativa', se é que me entendem. Mas o mais curioso é que a cannabis medicinal parece estar tratando de tudo. Ansiedade? Check. Dor crônica? Check. Insônia? Check. Fibromialgia? Também está na lista. Não demora muito e vão começar a receitar para resolver problemas do coração - mas calma, não o coração físico, e sim aquele partido quando o Brasil não ganha a Copa.

E, claro, enquanto a ciência avança, o mercado pula de alegria e os médicos ganham mais trabalho, uma coisa permanece estável: o velho conservador no canto da sala, gritando que isso é um complô para "destruir os valores da família brasileira". Mal sabem eles que, enquanto gritam, a economia está se preparando para uma nova revolução verde - e não estou falando do etanol. O curioso é que, mesmo com todo o avanço, o tema ainda caminha em passos miúdos, cercado de amarras legais, tabus e falta de coragem política. A cannabis medicinal é tratada como aquele parente excêntrico: você até convida para o jantar, mas não senta do lado.

O mercado pode até ser promissor, mas o Brasil, com seu talento inato para complicar o óbvio, ainda tem um longo caminho até entender que regulamentar não é incentivar, é controlar. Afinal, o problema nunca foi a planta, mas sim quem tem o poder de decidir o que fazer com ela. Entendam que, enquanto discutimos as doenças que a cannabis trata, talvez valha a pena perguntar: e quem vai tratar da ignorância? Esse sim, é o mal crônico mais difícil de curar no Brasil.

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