O atento desvia de tudo o que pode ver, mas o invisível ainda pode derrubá-lo. Assim, o cientista verifica, com micros e telescópios, para ver tudo o que pode ser visto; enquanto o filósofo, por vezes de olhos fechados, procura enxergar o invisível desta vida. - A falta de sentido é o nada que já derrubou muitos homens.
Na inauguração deste milênio, buscamos conhecimento em razão do saber fazer, do como, do know how... Assim, com negligência - e decerto algum temor -, escalamos pouco na direção de nós mesmos, do autoconhecimento, do saber, do porquê, do self...
Por conseguinte, inúmeros são surpreendidos com o vazio das suas vidas. A morte é mais aterrorizante durante a vida; as doses de morte são mortais, mas a morte em si, não. O vazio semântico da existência são essas embriaguezes e ressacas que a morte impõe a todos que não querem bem escrever as suas histórias.
O inferno, por isso, deve torturar com o fogo da inexistência: o nada deve ser um algoz eterno, o nada é um torturador imortal. Assim, o prazer pode estar na vida - é sempre um talvez; mas nenhum prazer há na morte - a morte é um nunca, certamente um nunca mais: o corpo vivo, mesmo doente, pode acariciar a alma, mas os cadáveres não sabem quando são abraçados, ainda que abraçados pelas suas esposas.
Não há prazer na morte; é dolorosa a inexistência. A morte dá mostras da sua tortura durante as vidas tratadas como nadas. Soldados anônimos, que já não querem mais um nome, mesmo vivos, vivem mortos todos os dias, os seus dias são noturnos e, antes de matarem e morrerem, já estão assassinados, sob a tortura de se verem como nadas. Nadificado nenhum homem é feliz.
A felicidade, então, precisa ser divina para ser humana, pois tem que gerar vida a partir do nada, criar sentido onde não há nada, subir degraus sem escadas, fazer da morte apenas um pedaço passageiro da vida - fazer da vida tudo e eterna.