"Era em São José dos Campos.
Domingo, dia 6 de outubro de 2024. 
Não havia erros nos votos, graças às urnas eletrônicas,
e por isso a soma estava certa (e auditável).
Era em São José dos Campos.
Domingo, dia 6 de outubro de 2024. 
O horizonte eleitoral estava perto.
Tudo parecia certo
admiravelmente incerto".

Adaptando os versos do poeta joseense Cassiano Ricardo (1895-1974), que dão vida ao poema 'A flauta que me roubaram', sentencio: o horizonte eleitoral de São José dos Campos é hoje incerto, admiravelmente incerto. Neste domingo de eleições, em que não "havia erros nos votos" e sobre o qual não havia "comunismo nem fascismo pra nos tirarem o sono", de certo mesmo só a incerteza.

A corrida ao Paço Municipal encontra-se irresoluta e a expectativa (quase certa) é de que tenhamos segundo turno, após 28 anos de sufrágios em primeiro turno.
Era em São José dos Campos, era a eleição mais disputada da história política recente do maior município do Vale do Paraíba.

Em um confronto histórico, os dois candidatos empatados tecnicamente na ponta das pesquisas mais recentes, Anderson Farias (PSD) e Eduardo Cury (PL), integraram o mesmo grupo político por décadas e agora, travando um duelo fratricida, estão em lados opostos, em uma guerra de trincheiras, voto a voto, com uma escalada de tensão.

Após vencer seis das sete últimas eleições, o PSDB de Emanuel Fernandes, prefeito entre 1997 e 2004, sofreu uma ruptura em 2022, quando Felicio Ramuth, então chefe do Executivo Municipal, saiu do partido, migrando ao lado de Anderson para o PSD, e em seguida renunciou ao mandato -- foi eleito vice-governador de São Paulo.

Agora, o duelo é entre "criadores e criaturas".

Nas últimas duas semanas, Anderson cresceu nas pesquisas e, numericamente, ultrapassou Cury, que fez o movimento contrário, perdendo tração nos últimos dias de campanha -- no levantamento mais recente, do Ipec, divulgado na véspera da eleição, Anderson tem 33% dos votos válidos contra 28% de Cury, o que configura empate, pela margem de erro de três pontos para mais ou para menos.

Oscilando positivamente, Dr. Elton (União) tem 25% dos votos válidos, em empate técnico com Cury, consolidando-se como uma terceira via. Pode surpreender?
Do Ipec da última segunda-feira para o de sábado, Elton é quem mais avança, subindo quatro pontos percentuais.

Cury, que na metade do mês de setembro tinha aberto uma larga distância sobre os dois concorrentes diretos, tentou administrar a vantagem e mudou o ritmo da campanha, pareceu correr com o freio de mão puxado, diminuiu o ritmo, e viu Anderson sair das cordas, elevar o tom e passar a apostar em duas frentes: associar a avaliação da atual gestão a ele e fustigar a imagem do candidato do PL.

A oscilação negativa é uma má notícia para Cury, em uma semana em que ele teve o apoio presencial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nesta semana final de campanha, que foi aberta pela pesquisa OVALE que, pela primeira vez, mostrou Anderson na dianteira, Cury já esboçou qual será a sua estratégia caso chegue ao segundo turno. Vai voltar a elevar o tom, como fez no início da campanha na TV e já no debate da TV Vanguarda, e buscar diferenciar o grupo dele e de Emanuel da turma de Anderson e Felicio, como 'plantadores' versus 'colhedores'.

Fato é que, nesta reta final, ficou evidente que a campanha de Anderson, digitalmente, tem uma artilharia muito mais pesada do que a de Cury, que por vezes ainda parece analógico demais para uma disputa em 2024. É justamente aí, nesta seara, que Dr. Elton surfa muito bem, com apoio de especialistas em marketing digital.
Em alguns momentos, com pautas levantadas por Cury, Elton conseguiu traduzir temas herméticos de forma popular, palatável, com o punch de um meme, uma sacada ou um vídeo bem editado. 

Quem vai para o segundo turno? Aí, é outra eleição. Se o embate for entre Anderson e Cury, os votos de Elton serão decisivos.