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Motorista de Porsche é preso após atropelar e matar motociclista

Por Francisco Lima Neto | da Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/TV Globo
Delegado disse que vai pedir a conversão da prisão em flagrante de Igor Ferreira Sauceda em preventiva (sem prazo)
Delegado disse que vai pedir a conversão da prisão em flagrante de Igor Ferreira Sauceda em preventiva (sem prazo)

Um motociclista morreu após ser atingido por um Porsche na madrugada desta segunda-feira (29), na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo.

De acordo com a Polícia Militar, testemunhas disseram que o motociclista teria batido no retrovisor do carro de luxo e que o condutor havia discutido com ele. O motorista foi preso em flagrante após prestar depoimento à tarde e deve passar por audiência de custódia nesta terça-feira (30).

O empresário Igor Ferreira Sauceda, 27, que dirigia o Porsche, afirmou à polícia que voltava do trabalho com a namorada, quando o motoboy Pedro Kaique Ventura Figueiredo, 21, chutou e quebrou o retrovisor esquerdo do seu carro e foi embora.

Sauceda declarou, segundo o registro policial, que seguiu o motoboy pela avenida Interlagos e, na altura do número 7.530, Figueiredo mudou de faixa abruptamente e entrou na frente do veículo. Disse que tentou desviar para a direita, mas não conseguiu escapar e atingiu a traseira da moto. Com o impacto, a moto e o Porsche bateram ainda em uma árvore e em um poste.

O motociclista foi socorrido em estado grave pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital Grajaú, onde morreu. A namorada de Sauceda, de 24 anos, teve ferimentos nas mãos em razão dos estilhaços. O empresário aguardou no local do acidente a chegada da polícia.

De acordo com o boletim de ocorrência, o empresário foi submetido ao teste do bafômetro, que deu negativo. Ele foi levado ao 48º DP (Cidade Dutra), onde prestou depoimento e foi preso em flagrante.

O delegado Edilzo Correia Lima afirmou que o motorista do Porsche responderá por homicídio doloso, considerando dolo eventual (que assume o risco de matar).

O advogado Carlos Bobadilla, que defende Igor Sauceda, classificou o ocorrido como uma fatalidade.

"O Igor estava voltando para casa junto com a namorada, o Igor não havia ingerido qualquer bebida alcoólica, qualquer entorpecente e, infelizmente, aconteceu essa fatalidade. Ele não fez absolutamente nada de errado que pudesse legitimar a conduta de homicídio doloso conforme o delegado colocou. O resto será apurado no ínterim das investigações", disse o advogado.

O empresário afirmou que não sabe o motivo que teria levado o motociclista a atingir o retrovisor do carro, mas diz ter achado a "atitude suspeita", já que dias antes, na mesma região, jogaram um objeto na pista para que ele fosse obrigado a parar o carro.

Segundo o delegado, em depoimento, o empresário disse que a velocidade do carro estava entre 60 e 70 km/h, mas que isso não condiz com as imagens. De acordo com Lima a velocidade era superior.

A investigação, ainda de acordo com o delegado, aponta para momento de fúria.

"Nós acreditamos que ele teve um momento de fúria e perseguiu o motociclista, acabando por atropelá-lo. O momento de raiva foi em razão do motociclista ter abalroado seu retrovisor. Trata-se de dolo eventual por motivo fútil", afirmou.

O delegado ainda afirmou que vai pedir a conversão da prisão em flagrante em preventiva (sem prazo).

No depoimento, segundo o delegado, o condutor do Porsche afirmou que não teve a intenção de matar e que a moto se aproximou muito dele.

"Ele dá uma versão completamente contraditória do que a gente vê nas imagens", afirma.

Na delegacia, o pai do motociclista, Alex Russo Figueiredo, disse estar revoltado com a morte do filho.

"Queria saber por que ele fez isso? Por mais que ele quebrou o retrovisor ou algo do tipo, não justifica ele ter tirado a vida do menino. A vida vale um retrovisor? Ele vai poder voltar atrás e trazer meu filho lá pra dentro de casa? Meu filho está deitado dentro do necrotério e eu não posso fazer nada", declarou.

"Eu estou tentando ser forte, estou sem chão. A ficha não caiu. A gente cria filho para ver ele prosperar na vida, a gente não espera que amanhã ou depois vai acontecer algo desse tipo. Meu sentimento é de revolta", afirmou.

Segundo o pai, Figueiredo estava voltando da casa da sua irmã, no Jardim Consórcio, no momento da colisão. Eles haviam se encontrado no único domingo de folga do motociclista neste mês. "Parece que foi uma despedida", disse o pai.

O jovem havia se casado no início deste ano. O avô do motociclista, Pedro Paulo de Figueiredo, falou sobre o neto.

"Ele era um menino sossegado, amável, trabalhador. Trabalhava com o pai dele no transporte escolar, mas há uns cinco meses saiu e começou a trabalhar como motoboy. Era casado, com um filho de dois anos. Trabalhando para fazer a vida. Nessa hora a única coisa que a gente espera é justiça porque essa gente porque tem dinheiro acha que pode tudo", disse o avô.

Esse é ao menos o segundo caso de colisão fatal envolvendo o carro de luxo neste ano em São Paulo. Em 31 de março, também um domingo, o motorista Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, bateu seu Porsche no carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, que morreu.

Sastre está preso preventivamente na penitenciária de Tremembé, onde aguarda o julgamento do caso. Ele é réu sob acusação de homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima.

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