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Uso de PMMA para fins estéticos pode levar a mutilações e morte

Por Nathália Sousa |
| Tempo de leitura: 3 min
Nathália Sousa
O cirurgião plástico Guilherme Berganton diz que a substância não é absorvível e provoca uma inflamação que pode gerar complicações
O cirurgião plástico Guilherme Berganton diz que a substância não é absorvível e provoca uma inflamação que pode gerar complicações

O polimetilmetacrilato, ou PMMA, é um componente plástico que pode ter algumas aplicações na área da Saúde, mas não é recomendado para procedimentos estéticos. Essa substância pode ter causado inclusive a morte de uma mulher no início deste mês, pois familiares da vítima relatam que ela teve uma infecção generalizada após aplicação do PMMA.

Esta é mais uma substância de uso estético contraditório, como tantas outras que se popularizam de tempos em tempos. A incidência de complicações após procedimentos do tipo vem se intensificando, porém, nos últimos anos, bem como a procura por esses tratamentos. Isso levanta um alerta à população que busca alguma intervenção estética, para que haja cautela na escolha do produto utilizado e do profissional que fará o procedimento.

Cirurgião plástico, especialista em Cosmiatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Guilherme Berganton diz que o problema do PMMA é que ele provoca uma inflamação que pode evoluir mal. “O PMMA, polimetilmetacrilato, é um preenchedor não absorvível. Há preenchedores absorvíveis, como ácido hialurônico e bioestimuladores de colágeno, e os não absorvíveis. O fato do PMMA não ser absorvível é o problema do produto, porque, quando o preenchedor é absorvível, o procedimento pode ser revertido. O PMMA é composto por microesferas que provocam uma reação inflamatória, que pode se perpetuar.”

“Essa inflamação, quando fica crônica, pode levar a infecções que são difíceis de tratar. São ministrados antibióticos, mas em alguns casos não fazem efeito e é necessário partir para um procedimento cirúrgico. Mas a cirurgia pode ser mutiladora, porque as micropartículas ficam entremeadas no músculo e esse é um grande problema”, explica.

Tendência preocupante

Guilherme diz que a SBCP se posiciona veementemente contra o uso de PMMA e orienta pacientes a se informarem antes da aplicação de produtos. “A minha sugestão é para que as pessoas que querem fazer um procedimento procurem um profissional de confiança, qualificado, que tenha experiência e preferencialmente que seja credenciado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O paciente tem que se inteirar, passar por uma consulta médica, saber sobre as reações adversas que o procedimento pode causar e os possíveis tratamentos”, lembra.

Em uma sociedade cada vez mais ligada à estética, o médico conta que há aumento na procura por intervenções. “Teve aumento na procura, tanto por procedimentos corporais quanto faciais. Esse aumento caminha junto à oferta maior de tratamentos, porque nos últimos anos também surgiram ótimas opções de procedimentos. Há bons preenchedores como toxina botulínica, bioestimuladores de colágeno. Mas é necessário um treinamento para o profissional fazer esses procedimentos.” E, na mesma toada, Guilherme revela que as falhas também vêm crescendo. “O aumento da procura por procedimentos cosmiátricos também fez com que aumentasse o número de pacientes que procuram ajuda após um procedimento que teve alguma reação indesejada”, completa.

Por fim, a aplicação do PMMA vem sendo relativamente nova, mas a adversidade faz lembrar de uma outra substância que provocou muitos problemas no passado: o silicone industrial. “São momentos diferentes, mas conseguimos ver algumas intersecções nos casos. Acho que um ponto em comum nestes cenários é a falta de informação. Isso leva os pacientes a procurarem procedimentos que prometem muitas coisas, mas escondem o que eles podem causar. Algo que acontece com o PMMA e com o silicone industrial é o produto migrar. A aplicação acontece na região glútea e o produto vai para a coxa, por exemplo, o que causa deformações e precisa ser corrigido com cirurgia”, explica.

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