DIA DO COMERCIANTE

Atrelada ao comércio, Jundiaí mantém espaços tradicionais

Por Nathália Sousa |
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Nathália Sousa
Eduardo Martins mostra o primeiro cartãozinho do Gran Bazaar, guardado como relíquia, após mais de 60 anos
Eduardo Martins mostra o primeiro cartãozinho do Gran Bazaar, guardado como relíquia, após mais de 60 anos

Jundiaí, antes de se tornar cidade, foi a Freguesia de Nossa Senhora do Desterro, fundada por Rafael de Oliveira e Petronilha Antunes no século XVII. A origem da cidade se dá pelo comércio, que abastecia as bandeiras que rumavam para o interior do estado. Nesta terça-feira (16), Dia do Comerciante, apesar dos pesares, há motivo para comemoração no município. Jundiaí ainda se faz presente e relevante neste setor da economia, mesmo com o comércio on-line e as mudanças socioeconômicas com o passar dos anos. De acordo com a Unidade de Gestão de Governo e Finanças (UGGF), existem 12.515 comércios cadastrados na cidade, que empregam 37.886 trabalhadores formais.

Ao longo dos anos, e inclusive durante a pandemia, muitos comércios antigos não resistiram e acabaram fechando as portas. Alguns outros, porém, já completaram muitos anos de portas abertas, fazem parte da vida de muitas gerações de jundiaienses, principalmente no Centro e em bairros próximos, como Vila Arens e Ponte São João.

Tradição

Um desses comércios é a tradicional Loja dos Velhinhos, na esquina das ruas Bernardino de Campos e Senador Fonseca, no Centro, que já tem cerca de 90 anos. No local, Gabriel do Nascimento conta sobre a tradição do comércio em Jundiaí. “Ainda vejo que aqui tem um bom comércio, comparando com outras cidades. Tem alguns problemas, mas a cidade é boa para comércio.”

Sobre manter uma loja de tantas décadas, Gabriel diz que o ramo ajuda, mas o atendimento é importante. “Acho que o primordial é o relacionamento e a amizade com o cliente, porque faz com que a pessoa volte sem procurar concorrência. Falando de comércio em geral, loja física está difícil, mas no nosso ramo, de tecido, preferem a loja, para poder tocar no produto, saber da textura, a menos que seja um tecido que a pessoa já conhece, mas é difícil comprar pela internet”, conta.

Outra loja tradicional da cidade, na esquina da Barão com a Engenheiro Monlevade e em funcionamento desde 1961, é a Gran Bazaar. No local, Eduardo Martins diz que a loja está na quarta geração de comerciantes. “Sobrevivemos acompanhando o tempo, as mudanças. Estou on-line, na loja, acompanhamos feiras para saber o que tem de novidade, para oferecer o que o cliente precisa. Tenho muito produto de indução, por exemplo, mas também temos fogão a lenha, panelas de todos os tipos.”

Eduardo diz que o comércio em Jundiaí vai bem, atraindo inclusive consumidores de outras cidades, até de São Paulo. “É uma boa cidade para comércio, mas o comerciante tem que se adaptar, dar um bom atendimento. Aqui o atendimento é ótimo, somos lembrados por isso, então as pessoas nos procuram. E depende muito do que o cliente quer, se ele quer uma panela diferenciada, nós oferecemos, mas ele não encontra em shopping. E muita coisa que tem no shopping, tem no Centro, com qualidade”, pontua.

Em um ramo com muita concorrência, principalmente on-line atualmente, Elder Maschia atua há 43 anos na Hawai Calçados, na J.J. Rodrigues. Terceira geração de uma família de comerciantes, ele elogia a cidade. “Excelente para comércio, sempre inova e tem potencial. Minha mãe tinha comércio na Vila Rami há 50 anos e abrimos uma filial aqui no Centro, mas com outro nome. Meu pai era feirante, como muitos que montaram lojas depois. O comércio mudou, mas estamos aqui e não está ruim.”

Na Hawai, Samyrha Mina Machado conta que o importante é oferecer o que os clientes buscam. “Acredito que a fidelização esteja no atendimento e em oferecer o que os clientes precisam. Temos clientes de mais idade e é importante ter o que eles precisam, não o que eu quero vender. Acho que é um momento difícil para se manter uma loja, as coisas sobem e as pessoas não têm dinheiro para acompanhar. Na pandemia, as pessoas se acostumaram com compras pela internet e as coisas estão mudando mais rápido, antes os processos eram mais demorados.”

Ramo

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato Comércio Varejista de Jundiaí (Sincomercio), Edison Maltoni diz que a localização fez o comércio na cidade. “Sempre digo que o comércio é o maior gerador de emprego e renda do país, e sempre se desenvolve se tem meios de transporte para pessoas e mercadorias. A linha férrea ajudou no desenvolvimento do Centro, a localização da cidade também, entre São Paulo e Campinas. Jundiaí tem a Anhanguera, Bandeirantes e acessos à Dom Pedro na região. Tudo isso faz com que o comércio seja pujante”, afirma.

Maltoni diz que já não é preciso que o jundiaiense vá até São Paulo para ter diversos produtos, como ocorria há décadas. “O número de empresas que vêm para cá também mostra a importância da cidade. É difícil uma concessionária de automóveis que não tenha em Jundiaí, por exemplo. Eu, pequeno, me lembro que meu pai falava, na Páscoa, de ir comprar bacalhau no mercadão de São Paulo. Isso não existe mais há bastante tempo.”

Para Maltoni, muitos comércios antigos já não existem e que isso faz parte das mudanças em locais como o próprio Centro, além de outros fatores, como a pandemia. “Na pandemia, tivemos perdas de comércios que não conseguiram se manter, porque não tinham a presença digital. Os que já estavam nesse conceito, conseguiram se manter. Talvez muitos antigos não existam porque não se atualizaram. Às vezes o comércio fecha também porque o comerciante quer migrar para outra fonte de renda. Mas digo que Jundiaí sente a crise depois e sai antes, por causa dessa força.”

Ele também reclama da manutenção de espaços. “Acho que falta zeladoria aos espaços, segurança, afastar as pessoas em situação de rua, para que o consumidor não se sinta inseguro. É importante para o comerciante receber isso das autoridades.”

Operando a caixa registradora histórica, Samyrha Machado acredita que toda loja tradicional tenha elementos que marcam isso / Nathália Sousa
Operando a caixa registradora histórica, Samyrha Machado acredita que toda loja tradicional tenha elementos que marcam isso / Nathália Sousa
Gabriel do Nascimento diz que o atendimento e a presencialidade fazem a diferença no ramo da venda de tecidos, para manter uma loja de quase 90 anos / Nathália Sousa
Gabriel do Nascimento diz que o atendimento e a presencialidade fazem a diferença no ramo da venda de tecidos, para manter uma loja de quase 90 anos / Nathália Sousa

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