Ingredientes:
1 ½ xícara (chá) de tapioca granulada
2 xícaras (chá) de leite quente
200 ml de leite de coco 1 ½ xícara (chá) de farinha de trigo
100 gramas de coco ralado
1 colher (sopa) de fermento em pó
4 ovos
1 xícara (chá) de açúcar
5 colheres (sopa) de margarina
Igual à pamonha assada do último domingo, a receita de hoje contempla o cardápio da mesa junina e tem num subproduto da mandioca, a tapioca, seu ingrediente principal. Nada mais típico que esta raiz quando se fala em Brasil, gastronomia brasileira, colonização, subsistência, cultura. Presente de norte a sul, sempre foi muito mais do que um simples alimento; representou importância histórica impressionante.
Classificada pela quantidade de ácido cianídrico que possui, pode ser mansa (doce, macaxeira, aipim) ou brava (venenosa). Nativa, seu consumo começou há pelo menos 2 milênios na bacia do Amazonas e aos poucos espalhou-se pela América do Sul (Venezuela e Guianas) e América Central. À época do descobrimento, já rezava lenda em língua tupi que em tempos remotos nascera na família de pele acobreada uma menina muito branca, que morreu antes mesmo de começar a andar. Chamava-se Mani. Os pais que a amavam a enterraram dentro da oca. Surpreenderam-se quando viram brotar no lugar a planta que cresceu logo e exibiu raízes brancas comestíveis. Associaram as alvuras e deram-lhe o nome de mani-oca, ou seja, “casa de Mani”, linda criação lírica. Quem disse que selvagem não pode ser poeta?
Assim que entraram em contato com a dieta indígena, portugueses se surpreenderam com o valor nutritivo e a versatilidade que a mandioca, alimento onipresente, possuía. Resolveram ampliar seu cultivo e inicialmente a usaram no tráfico negreiro: navios que retornavam do Brasil para a África levavam farinha de mandioca como uma das moedas de troca. Depois, no período das entradas e bandeiras, foi o alimento essencial dos bandeirantes, que na sua epopeia desbravadora mantinham alguns grupos cultivando a raiz e produzindo farinha, enquanto outros abriam caminhos na selva escarafunchando montanhas e barrancos de rios em busca de ouro e esmeraldas. Não raro, quando os segundos regressavam, encontravam as roças de mandioca transformadas em arraiais que depois viravam casas de farinha. Os índios haviam ensinado aos brancos que de um pé do arbusto tudo se aproveitava. Não apenas a comiam cozida ou assada, como obtinham dela subprodutos. Havia a farinha de mandioca, resultado da raiz ralada, prensada e seca em tacho. Havia o polvilho, produto da sedimentação do suco da raiz. Havia a maniçoba, prato onde às folhas da mandioca brava, cozida durante horas, reuniam-se pedaços de carne. Havia o tucupi, caldo de cor amarela, extraído também da mandioca brava. Havia a puba, massa deixada de molho por três dias para ser fermentada. E havia a tapioca, goma com a qual se faziam originalmente os beijus e, depois, já nas cozinhas das casas grandes, cuscuz, pudins e bolos.
É um desses bolos que trago hoje para o leitor. Encontrei-o num caderno antigo, perdido nas gavetas físicas de algum armário velho, mas recuperado em outras, as da memória, no seu sabor e textura singulares. Lembro-me de ter saboreado fatias dele numa quermesse que nos anos 70 se promovia em junho na praça ao lado da igreja de Santo Antônio, na Cidade Nova. O lugar é hoje um estacionamento que não me deixa esquecer a voracidade transformadora do tempo; embora nesta semana esteja acontecendo por lá uma alegre festa junina. Para fazer o bolo, use a tapioca granulada da Yoki, à venda nos supermercados. Meça e despeje numa tigela, regue com o leite quente, deixe descansar por dez minutos, misturando pelo menos três vezes durante este período. Junte então o leite de coco e deixe em descanso por mais dois minutos. Reserve. Em outra vasilha reúna a farinha de trigo, o coco e o fermento, mexendo para integrar tudo. No copo do liquidificador coloque os ovos, o açúcar, a margarina e bata por dois minutos. Despeje a mis
tura líquida sobre a mistura de farinha reservada. Mexa e por fim agregue a tapioca hidratada com os leites e deixada no descanso. Unte uma forma de furo central com manteiga e polvilhe com farinha. Coloque a massa e dê umas batidinhas na superfície da pia para que as bolhas de ar não levem a um crescimento desigual. Leve a assar em forno que já deve estar bem quente e mantenha a temperatura de 200 graus por cerca de 50 minutos; ou até que fique dourado e ao espetar um palito na massa ele saia limpo. Espere amornar para desenformar. Sirva com cafezinho.