No artigo anterior, o primeiro desta série de dois, voltados para o nosso passado recente e às nossas perspectivas no futuro próximo, partimos do período da redemocratização para a Jundiaí de hoje.
Nessa época, Jundiaí era classificada como “cidade-dormitório”, uma vez que não conseguíamos atender à demanda local de emprego, o que levava parte dos jundiaienses a procurar trabalho nas cidades próximas, principalmente em São Paulo e no ABC paulista.
Concluímos assinalando os avanços na infraestrutura de Jundiaí, como o abastecimento de água garantido por décadas e o saneamento básico de qualidade, entre outras medidas que tornaram nossa cidade, desde então, um modelo de desenvolvimento regional.
Neste artigo, que encerra essa sequência, partimos do presente e nos aventuramos a prospectar o futuro, e o que plasma o futuro não é só o que está a acontecer, mas o rumo que as coisas estão tomando. Com relação a Jundiaí e às cidades da região, uma coisa é certa: o rumo que as coisas estão tomando pode nos levar a um futuro próspero, que garanta mais e melhores oportunidades a todos.
Objetivamente, por estarmos entre duas das maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Campinas — a primeira cidade que não é capital de estado a receber esse status do IBGE —, Jundiaí está no centro da região mais dinâmica do Brasil. E esse posicionamento dá frutos: está em andamento um processo de integração dessas três cidades, visando criar uma nova metrópole, a maior da América do Sul.
O traço de união que irá promover, na prática, essa integração é uma nova linha de trem, o Trem Intercidades, de alta velocidade, que irá ligar São Paulo a Campinas, com uma única parada: Jundiaí.
Obviamente, um avanço dessa dimensão não resultará apenas em vantagens, embora seja claro que os benefícios daí decorrentes concorrerão para dinamizar não apenas o nosso desenvolvimento econômico, como também o nosso desenvolvimento cultural, colocando-nos mais próximos dos benefícios do conhecimento.
No presente, com relação às medidas preparatórias para dar início à construção desta linha, incluem-se:
1. Licenciamento ambiental
A concessionária responsável, a TIC Trens, protocolou o pedido da Licença Ambiental de Instalação (LAI) junto à Cetesb. Essa autorização é indispensável para que os canteiros de obras possam ser montados e as intervenções físicas, iniciadas.
2. Desapropriações
O governo estadual já publicou as declarações de utilidade pública e começou os processos de desapropriação ao longo do trajeto. Os municípios mais afetados são Jundiaí, Valinhos, Vinhedo, Louveira e Campinas. Essa fase costuma ser demorada e envolve negociações, avaliações e indenizações.
3. Projetos executivos e engenharia
Enquanto o licenciamento avança, a concessionária finaliza os projetos executivos, que detalham cada trecho de via, obra de arte, estação e sistema. Trata-se da etapa em que o projeto sai do nível conceitual e ganha forma concreta.
O início da obra está previsto para maio de 2026, e o início da operação, para 2031. O percurso de 101 km (entre o Terminal da Barra Funda e Campinas) levará, a uma velocidade de 140 km/h, com a mencionada parada em Jundiaí, 64 minutos.
O projeto inclui ainda outro ramal, entre Jundiaí e Campinas, com paradas em Vinhedo e Valinhos, com duração de 33 minutos, o que irá dinamizar ainda mais essa região da nova metrópole.
A importância dessa integração terá impacto em diversas áreas. Economicamente, concentraria um enorme PIB regional — São Paulo já é o principal centro financeiro e industrial da América Latina —, e muito se ganhará com a distribuição de atividades econômicas, tecnológicas e culturais entre esses centros urbanos e polos de inovação, como a Unicamp, de Campinas.
Na área social e na mobilidade, reduzirá tempos de deslocamento e ampliará o mercado de trabalho acessível por transporte público rápido, podendo diminuir a dependência do transporte rodoviário e seus custos ambientais.
Em comparação com grandes regiões urbanas globais, essa área poderia ser comparada a regiões como Greater Tokyo, Pearl River Delta ou o corredor Boston–Washington, nos EUA: núcleos econômicos distribuídos, altamente conectados e com enorme participação no comércio, nas finanças e na inovação.
Sem dúvida, toda essa série de benefícios advindos do desenvolvimento, principalmente nessa escala, não deixa de trazer também novos problemas, e devemos estar a postos para enfrentá-los. Jundiaí tem, nessas mudanças e desafios, o seu passaporte para o futuro.
Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí