MEMÓRIA

Sob pressão de grupo negro, Liberdade perde luminárias japonesas

Por | da Redação
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Reprodução/SPTV
A retirada das luminárias é parte do projeto de reurbanização do Beco dos Aflitos.
A retirada das luminárias é parte do projeto de reurbanização do Beco dos Aflitos.

As luminárias tradicionais de estilo japonês foram retiradas da Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, após reivindicações de grupos do movimento negro. A rua, que abriga a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, local histórico relacionado à escravidão, receberá um memorial em homenagem à população negra. Segundo o SPTV, da TV Globo, o restante do bairro mantém os postes de iluminação com estética asiática.

Ao noticiário, a Prefeitura de São Paulo justificou a troca das luminárias como ação para respeitar a diversidade histórica e cultural do bairro, garantindo visibilidade às memórias dos diferentes grupos que ali coexistem. Em nota, a administração explicou que a decisão veio em resposta a pedidos de entidades negras, que consideravam as lanternas japonesas incompatíveis com o contexto histórico da região.

Hubber Clemente, especialista em afroturismo e membro da Associação Amigos da Capela, disse em entrevista ao SPTV que a substituição não representa um embate entre as culturas japonesa e negra, mas sim um esforço por reconhecimento. “As culturas podem coexistir nesse espaço sem problema algum. Não queremos que uma apague a outra, mas sim preservar as características originais do território, que foi primeiramente ocupado por pessoas negras.”

A retirada das luminárias é parte do projeto de reurbanização do Beco dos Aflitos, promovido pelo programa Ruas Abertas. A Associação Amigos da Capela destacou que a mudança representa uma reparação histórica, trazendo à tona a memória dos escravizados enterrados na região.

Cemitério dos Aflitos

Em 2018, arqueólogos confirmaram a existência de um antigo cemitério na área, onde foram enterrados escravizados, indígenas e condenados à forca entre 1775 e 1858. A descoberta, antes registrada apenas em documentos, levou à desapropriação do terreno pela Prefeitura em 2020, com o objetivo de construir o Memorial dos Aflitos.

As obras do memorial estão em andamento, mas um incidente atrasou o projeto: no início de novembro, parte da parede de um prédio vizinho caiu sobre a área de escavação, comprometendo o trabalho.

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