PREOCUPAÇÃO

Jundiaí rejeita criação do plano de monitoramento de alagamentos

Por Nathália Sousa |
| Tempo de leitura: 4 min
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Áreas que margeiam rios, como a avenida 14 de Dezembro, sofrem com alagamentos em época de chuva mais intensa em Jundiaí
Áreas que margeiam rios, como a avenida 14 de Dezembro, sofrem com alagamentos em época de chuva mais intensa em Jundiaí

Atualmente, de acordo com levantamento da Defesa Civil de Jundiaí, a cidade tem áreas de alagamento e deslizamento que podem ser evitados com medidas de contenção. Em paralelo a esse levantamento, a Câmara dos Vereadores de Jundiaí rejeitou nesta semana um projeto de emenda ao Plano Diretor da cidade. A proposta previa a criação de um Plano de Gestão de Águas Pluviais e mapeamento de áreas alagáveis, a fim de evitar a ocupação dessas áreas.

De acordo com a Unidade de Gestão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (UGPUMA) de Jundiaí, o município conta com os Planos de Saneamento - desenvolvido em parceria com a DAE Jundiaí - e de Resíduos Sólidos que tratam dos temas água, esgoto e macrodrenagem. A cidade também mantém um trabalho específico com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Governo do Estado, para a verificação de riscos em conjunto com a Defesa Civil. Além disso, a DAE contribui com este trabalho ao fazer a fiscalização e preservação dos mananciais de abastecimento e o monitoramento das represas.

Não há, porém, nada especificado em relação às águas pluviais, que são captadas pela rede de esgoto da DAE, com sistemas como bueiros e bocas de lobo, mas o planejamento de captação é feito pela prefeitura, não pela autarquia.

Ainda de acordo com resposta da UGPUMA, de maneira regional, a partir da Região Metropolitana de Jundiaí, está em discussão o Plano de Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas, visto que o impacto não é restrito apenas a uma cidade.

ÁREAS DE RISCO

As 20 áreas de alagamento monitoradas em Jundiaí são divididas entre o risco baixo (1), médio (5), alto (6) e muito alto (8). Essas áreas podem ter riscos minimizados com ações de limpeza, desassoreamento e estabilização do talude marginal. Já entre as 16 áreas que têm risco de deslizamento, há prioridades média (3), alta (9) e muito alta (4), que podem ter como prevenção a instalação de taludes. (Confira os locais monitorados de deslizamentos e alagamentos).

Além dos locais indicados no estudo, porém, há outros em Jundiaí que sofrem com alagamentos e deslizamentos e não estão previstos no levantamento, como é o caso do Jardim Novo Horizonte e da avenida Luiz Latorre, por exemplo, que estão rentes ao Rio Jundiaí e tiveram casos de alagamentos recentes. Ou, no caso de deslizamento, há pontos como na Vila Marlene.

Coordenador dos cursos de Engenharia Química e Engenharia Ambiental no Centro Universitário Padre Anchieta (Unianchieta), Flávio Gramolelli Junior diz que os alagamentos são consequência da urbanização que “emoldurou” os cursos d’água. "O Jardim Merci foi feito no que chamamos de leito virtual do rio, área que as águas ocupavam em períodos de cheia. No Vianelo, onde também corre o Rio Guapeva, aterraram para fazer o loteamento. Minha mãe conta que perto da rua Pirapora tinha até uma cachoeirinha. Na região da Vila Liberdade, o Rio Jundiaí também é reto, mas ele não era reto, ele serpenteava, e as áreas do entorno eram alagáveis, porque faziam parte do leito virtual", explica.

"A população cresce e não há planejamento urbano para esse crescimento, adotou-se o modelo de retificar o rio, concretar as margens e criar loteamentos, mas esse espaço é do rio e, mais cedo ou mais tarde, as águas vão ocupar de novo. Tivemos recentemente o caso de Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul, que tinham construções em região de leito de rio", lembra.

Para Flávio, esse problema continua se repetindo. “Em países mais desenvolvidos, que tiveram os mesmos problemas que estamos tendo, fizeram a renaturalização dos rios, tirando concreto, desocupando as margens. Alemanha, Holanda, por exemplo, tiraram marginais de rios. Nessa obra no Rio Jundiaí, com a ponte, na região da Vila Hortolândia, estão concretando a margem de novo. Você alarga, mas, quando concreta, aumenta a velocidade da água e cidades próximas, como Itupeva, acabam sofrendo.”

Flávio diz ainda que a tendência é piorar. “Tem pessoas que ainda não acreditam, mas estamos em processo de aumento da temperatura média global. Isso mexe com o processo termodinâmico da atmosfera e acontecem os extremos climáticos. Tem El Niño e La Niña, mas os efeitos estão cada vez mais intensos. Se as cidades não se prepararem, e os gestores, municipais, estaduais e federais, colocarem investimento em planejamento contra desastres, vamos ter cada vez mais problemas. Jundiaí tem plano há anos, mas não separou recurso financeiro para isso.”

Algumas ações foram iniciadas em Jundiaí, como a remoção de algumas famílias de casas em áreas de risco, em encostas, por exemplo. No entanto, a Defesa Civil do município, que faz o trabalho de prevenção e atuação em casos de desastres naturais, teve verba de apenas R$ 45 mil neste ano, sem contar salários, segundo a Lei Orçamentária Anual.

O Rio Jundiaí e o início da avenida Antonio Frederico Ozanan /Arquivo Prof. Maurício Ferreira
O Rio Jundiaí e o início da avenida Antonio Frederico Ozanan /Arquivo Prof. Maurício Ferreira
Na chuvarada do último verão, a estrada Municipal do Varjão ficou coberta pela água/Reprodução
Na chuvarada do último verão, a estrada Municipal do Varjão ficou coberta pela água/Reprodução

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