O desaparecimento de empregos formais é um flagelo para a mocidade. José Pastore, o renomado economista e sociólogo, faz uma observação interessante: nossa geração conseguiu, em tese, suplantar a geração anterior. Os filhos "deram certo". Esta geração não obtém idêntico sucesso. Vejo pais bem sucedidos à procura de empregos e de oportunidades para seus filhos. Sem muito sucesso, infelizmente.
É que o mundo mudou. A Quarta Revolução Industrial transformou a indústria e os serviços. Trabalhos automatizados prescindem do ser humano. Este precisaria ter sido treinado para as novas tarefas. Não foi. Nossa educação é uma lástima. Adestra a criança, fá-la decorar informações desnecessárias, impõe disciplina rígida e condena o jovem à triste condição de "sem-sem": sem qualificação e sem trabalho. Depois ainda acusa a mocidade de ser "nem-nem": nem estuda, nem trabalha. Pudera! Fazer o que?
Por isso é que as cidades brasileiras estão inundadas de trabalhadores informais. Vende-se de tudo. Mas também se esmola. Ocupa-se logradouro público por falta de moradia. Legiões de "Zumbis" formam Cracolândia e outros quistos. É a tragédia que Ulrich Beck, sociólogo alemão criador da "sociedade de risco", chama de "brasileirização do Ocidente". Essa invasão de massa amorfa e despreparada preocupa também o Velho Mundo. Juventude sem perspectiva parte para a droga, a rebeldia sem causa, o "non sense".
É óbvio que tudo fica mais grave com os riscos globais que interessam e afligem a todos. O maior deles, o da mudança climática. O do surgimento de autoritarismos popularescos, a partir da paradoxal vontade do povo. Quanto mais iletrado, mais vítima do fanatismo e da promessa de regimes que garantam a ordem.
Tudo isso deveria estimular a sociedade lúcida, ou a parte lúcida da sociedade, a pensar em alternativas. Aqui para nós, é implementar aquilo que já existe e é bem sucedido na Ligúria e na Itália toda. O agroturismo. As pessoas se hospedam numa chácara com plantações e animais que, antigamente, existiam em todas as casas. Alimenta-se com a comida caseira, de preferência preparada em fogão a lenha. Passeia pela região. Colhe frutas no pomar. Ordenha vacas ou cabras. Observa passarinhos.
Nossa região ainda se presta a algo assim. Enquanto não conseguirem destruir a zona rural, que já sofre os efeitos de uma especulação perversa e que abriga construções toscas, arquitetonicamente horrendas, haverá algumas chácaras em que essa atividade possa envolver a família e tirar os jovens da rua e das drogas.
Se os governantes prestassem atenção ao que é genuíno em sua cidade, incentivariam a cultura local. Zona de imigração italiana, riquíssimas as tradições da confecção doméstica do pão, do macarrão, dos embutidos, a fabricação de manteiga e de queijo.
O "frango com polenta" é um patrimônio cultural de Jundiaí e de nossa região. Mas também as compotas - doces de figo, de laranja, de pera, de pêssego. A goiabada cascão. Os sequilhos e as roscas. O pão de linguiça e de torresmo. A fabricação de artesanato: crochê, tricô, frivolité, outras artes manuais que foram se perdendo. O cultivo de flores e de folhagens.
Essa é uma vocação que Jundiaí já teve e que foi se perdendo. Mas que, retomada, garantiria a preservação ambiental - ora sob ameaças as mais diversas e as mais graves - e também a preservação cultural. Além de alavancar a economia. Por que não levar a sério essa possibilidade?
José Renato Nalini é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)