Sinto tão forte a presença de São José, cuja festa se celebrou este ano em 18 de março, na minha vida e isso não é de agora. São José meu intercessor e amigo! Para mim é o modelo do vocacionado, que se deixa guiar por Deus, renuncia, não teme a escuridão, fortalece o Filho, não busca pedestal, age na simplicidade e cuida. Como cuida! Todos nós somos vocacionados, em proporção menor à de Jose. No meu caso, falta me despir de determinados medos a fim de seguir unicamente nas mãos de Deus.
Santa Teresa D'Ávila nada empreendia sem se recomendar a São José. Contava ela que, em uma de suas viagens à Espanha, para fundar mais um mosteiro em honra a São José, o carro, puxado a cavalos, atravessava uma região montanhosa, em estrada cercada de precipícios. O condutor perdeu as rédeas num alto, e os cavalos, assustados, se precipitaram montanha abaixo. Santa Teresa ao perceber o horror em que se achavam as Irmãs, disse-lhes com voz firme e confiante: "Minhas filhas, aqui só existe um meio de escapar da morte: é recorrer a São José, é implorar-lhe a proteção". Pediram e foram atendidas.
Encanta-me o silêncio de São José, no qual testemunhava sua fé no Senhor, seguindo os caminhos que lhe eram indicados; caminhos com agruras extremas, mas sem se perder da estrela que guiou os Magos a Belém.
Quantas idas e vindas para São José desde que o Salvador está com ele. Mudanças por perseguições são sempre dolorosas e difíceis. Seguiu para o Egito, lugar de povos pagãos e sem saber se haveria retorno à sua terra.
A respeito da gravidez de Nossa Senhora, Fr. Bruno Varriano, OFM e Fr. Frédéric Manns, OFM, no livro: "José Artesão de Humanidade, Homem justo, esposo e pai", comentam que, ao saber da gravidez de Maria, antes de coabitarem, José, seu marido, sendo justo, não queria repudiá-la, então decidiu deixá-la em segredo. Situação difícil: fingir que nada aconteceu e aceitá-la como sua esposa, poderia pensar em traição. Se dissesse na sinagoga, ela seria tirada para fora do povoado e apedrejada. Como era um homem justo, da misericórdia, a terceira solução seria despedi-la em segredo, sem dizer o motivo. Com isso salvaria a vida de Maria. Nada de vingança ou de atitude precipitada. Foi quando o anjo lhe apareceu em sonho. Ele não hesitou: acreditou e disse "sim".
Tornou-se guarda da humanidade do Salvador. Imagino-o com o Menino no colo, os corações batendo em sintonia. Todas as dores da falta de abrigo para eles dissipou-se, por certo, quando tomou o Pequenino em seus braços.
Pouco se fala dele nos Evangelhos, mas sua obediência denuncia minha teimosia e transgressões. Seu silêncio acusa meu falatório tantas vezes vazio e inconveniente.
No romance "A sombra do Pai", do polonês Jan Dobraczynki, ele descreve a figura de São José, pai do Filho de Deus e esposo de Maria Santíssima. Como se lê nos comentários a respeito, o texto ajuda o leitor a entrar na realidade da época e a se aproximar dele que, enquanto guardião do Filho de Deus, foi a sombra do Pai.
Nas meditações do Cardeal Anastácio Ballestrero, ele comenta: "Aonde o leva o Senhor? Ele não sabe, Deus não lhe diz, não lhe explica nada e ele obedece da mesma forma".
Apesar de minhas misérias tantas, quero seguir na sombra de São José, que é a sombra do Pai.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista criscast@terra.com.br