Na semana passada, falamos sobre o fato de o Brasil ser campeão mundial dos juros reais – com a Selic a 13,75% e inflação inferior a 6% nos últimos 12 meses – e como isso atrapalha o crescimento econômico. Neste artigo, vamos falar do spread bancário, que é a diferença entre os juros que os bancos captam recursos e a taxa que ele empresta dinheiro, ou seja, os juros que as pessoas físicas e jurídicas de fato pagam.
O Brasil é famoso por ter um dos maiores spreads bancários do mundo. Estudo de Fiesp/Ciesp sobre o tema, considerando o crédito livre e o direcionado (como financiamento habitacional, agrícola, e via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social), dimensiona a discrepância. O spread aqui é 14,5 vezes maior que a média dos cinco países com os quais é possível fazer comparações, pois utilizam a mesma metodologia do Brasil (Suécia, Nova Zelândia, Malásia, Chile e Itália).
Mesmo quando a Selic baixou a um patamar inédito, de 2%, em 2019, os spreads continuaram lá no topo. Quando a taxa básica está alta, como agora, os efeitos são mais negativos porque isso significa que os juros na ponta estarão na estratosfera. Afinal, a Selic definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central influencia toda estrutura de juros da economia, de capital de giro para as empresas ao crédito pessoal, passando pelo financiamento às exportações.
E, como as taxas atuais estão muito altas, o crédito está caríssimo. Dados de dezembro passado do Banco Central mostram, por exemplo, que as empresas estão pagando juros de 19,7% ao ano no desconto de duplicatas, 23,2% para capital de giro e 97% no rotativo do cartão de crédito. As pessoas físicas têm uma conta ainda mais salgada: pagam 28,7% ao ano no financiamento de veículos, 131,9% no cheque especial e inacreditáveis 409,3% no rotativo do cartão de crédito.
É óbvio para todos que taxas nesses patamares encarecem o crédito de tal forma que a economia fica amarrada, pois inibe os investimentos e compras a prazo, além de aumentar a inadimplência. Segundo a Serasa Experian, 6,5 milhões empresas estavam inadimplentes em dezembro passado das quais 5,7 milhões são micro e pequenas. Em relação às pessoas físicas, o número de negativados alcança quase 70 milhões de pessoas. A expectativa do mercado é que com os juros nos patamares atuais a inadimplência siga alta em 2023.
A inadimplência, aliás, está entre as justificativas para o tamanho do spread brasileiro ser alto – embora há quem defenda que seja consequência e não causa. Os outros fatores que impactam o spread, segundo especialistas, são: alta carga tributária do setor, baixa taxa de recuperação do crédito, pouca concorrência, compulsórios e custos administrativos elevados.
A dificuldade de se recuperar crédito no Brasil, mesmo por via judicial, é um ponto sempre enfatizado pelos bancos. De fato, a taxa é baixa. De acordo com o Banco Mundial, de cada US$ 1 emprestado apenas US$ 0,13 são recuperados no país, enquanto a média mundial está em US$ 0,34.
Mas não restam dúvidas de que a baixa concorrência tem enorme peso nesta equação. Depois da saída de importantes instituições financeiras do Brasil na última década, hoje o país tem apenas cinco grandes bancos. E, conforme dados do Banco Central, os quatro maiores concentravam 59,3% do mercado de crédito em 2021. Embora, graças à tecnologia, novos players tenham entrado no mercado, o impacto das fintechs, das novas cooperativas e do cadastro positivo ainda é pequeno.
É preciso encontrar mecanismos para reduzir o spread bancário e ampliar a oferta de crédito, atacando os gargalos que atrapalham os investimentos, dificultam o consumo e não deixam a roda da economia girar.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)