Queda, sinônimo de tombo, é sempre um risco. Meu amigo Marquinhos - Marcos Antônio Pípoli -, o Salmista com voz do coro de anjos e engraçado que nem só ele, sempre me diz: "Amada Surdela, cuidado para não cair. Se cair e quebrar, não cola mais. E, se não colar, terá que sacrificar".
Há tantos tipos de queda, mas hoje escrevo sobre a queda do coração. A frequência cardíaca pode cair e, de acordo com os batimentos, é uma ameaça à sobrevivência. A arritmia, por exemplo, é um distúrbio do ritmo cardiológico. Creio que coloquei certo. A queda da sintonia com Deus, via coração, também acontece.
Semana passada percebi que, em um contexto, estava de visão nublada com o Senhor. Insistia e resistia, até que a fala de uma pessoa me fez refletir. Notei que o Senhor me sacudia pelos cabelos para me fazer acordar. Coração abatido e tombado. Procurei o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, meu confessor e diretor espiritual, para conversar a respeito.
Falando nele, ontem completou 14 anos de Ordenação Sacerdotal, do "Sim" com coerência e fidelidade, que nos leva à salvação. Como sou grata a ele! De imediato, me mostrou, no fato, que em lugar de me ver como inútil, assim como coloca o apóstolo São Paulo, gloriando-me apenas na Cruz de Jesus Cristo, usava "minhas utilidades" para resolver um assunto doloroso sobre o qual somente Deus poderia agir. Ou seja, fiz-me "deusinha" e perdi a paz. Não é a primeira vez. Necessito, no entanto, de alguém de compromisso efetivo com Deus, firme e misericordioso, como ele, a fim de me ajudar a me ver na verdade.
Coração em queda sangra e precisa de cura, conforme aconteceu com a mulher com hemorragia por 12 anos (Marcos 5, 25-33), lembrada a mim pelo Padre Márcio Felipe. Rastejou até o manto de Jesus para nEle tocar e ficar curada. Compreendeu a fé como uma força de vida que a libertou da morte e da marginalização.
Padre Márcio Felipe ofereceu-me a canção do Diácono Nelsinho Correa: "Eu quis ser fiel, e o pecado como fel/ amargurou meu coração. / Daí eu quis fugir (...) Quem me segurou foi Deus/ Com seu amor de Pai. / Quem me compreendeu foi Deus/ (...) Quem cuidou de mim foi Deus/ Quem me amparou foi Deus". Sinalizou o Pai Nosso cantado pelo Padre Marcelo Rossi: "Pai, meu Pai do céu/ Eu quase me esqueci, me esqueci/ Que o Teu amor vela por mim, vela por mim/ Que seja feito assim".
Deu-me como penitência a reflexão sobre o Salmo 1º.: "Os dois caminhos". Seguir o conselho dos que escolhem o caminho da Cruz, como ele mesmo me expôs, e não o dos arrogantes.
Examinei o Salmo na edição de estudos da Bíblia Sagrada da Ave Maria e a partir dele destaco: "Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal" (Deuteronômio 30, 15), "Estenda-se a vossa mão e me socorra,/ porque escolhi vossos preceitos" (Salmo118, 173), "Correrei pelo caminho de vossos mandamentos,/ porque sois vós que dilatais meu coração" (Salmo 118,32), "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros" (São João 15, 16).
Que o Senhor me proporcione a graça de permitir que Ele amplie meu discernimento e o coração para viver da sabedoria do Céu!
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)