Jesus vem

22/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Jesus vem para você e para mim. Acolhê-lo, no entanto, depende de cada um. Cumprir a vontade do Eterno é atitude individual. Mesa farta, com excessos, sem olhar através da janela, ou manjedoura de Belém? Embriaguez ou contemplação do Céu, onde a estrela indica como chegar ao Menino?

O Carmelo São José me recorda palavras do Papa Emérito Bento XVI: "Jesus se inclina e desce... Nada pode ser mais sublime e melhor do que o amor que assim se inclina, desce e se torna dependente. A glória do verdadeiro Deus se torna visível quando os olhos do coração se abrem diante do estábulo de Belém".

"Jesus se inclina e desce." Ele me falou forte neste Advento, com a reflexão do Padre Márcio Felipe de Souza Alves, meu diretor espiritual, após o Sacramento da Penitência.

Disse-me sobre a lamparina da alma, de chama reduzida quando peco, mas como não deixo de buscar a graça de Deus, o Senhor não permite que ela se apague. Foi assim desde que entrei na idade da razão. Ele se inclina e vem ao meu encontro. Não permitiu, em momento algum, que eu me afastasse definitivamente dEle, pois proclamei ainda na adolescência como o Profeta Jeremias (20, 7): "Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtiveste o triunfo".

Padre Márcio Felipe expôs sobre Eva, que se deixou inebriar pelo olhar demoníaco da serpente e foi possuída pelo orgulho, e sobre Maria na Anunciação. Perturbou-se ela com as palavras do anjo, pensando no que significaria: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!" (Lucas 1, 28). Diante de seu questionamento, o anjo lhe afirmou: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus" (Lucas 1, 30). Encontrar graça diante de Deus, vivendo de acordo com Sua vontade, é a maneira para se permanecer em pé diante das adversidades e continuar a caminho.

Passei a me vigiar mais, a fim de não me afastar da bênção de Deus, apesar de minhas misérias. Sou eu que me afasto, não é Ele que me nega a sua graça.

Repetiu-me, ainda, a frase do inesquecível Dom Joaquim Justino Carreira: "Seja feliz, fazendo os outros felizes". Entendi-a na perspectiva do julgamento e do contato com pessoas que me incomodam. Serei feliz ao sair de meus sentimentos para fazê-las felizes. Tudo isso é Natal. É o Senhor que se inclina e me tira de mim mesma para contemplá-Lo na humilde gruta e lá encontrar o sentido maior da existência humana.

Minha querida amiga Cláudia Mazia Ferreira de Souza Costa me contou sobre o projeto "Café em espera" na Bélgica. As pessoas pagam adiantado para um café ser servido a alguém que não tem condições de comprar uma bebida quente. Essa tradição começou em Nápoles e acontece em vários lugares do mundo. Em alguns, você pode encontrar também um sanduíche ou uma refeição à espera.

A ideia da Cláudia é de que teriam acesso a esse benefício, no estabelecimento cadastrado, os empobrecidos com mais de 50 anos, que perceberiam que há quem se importa com eles. Ou seja, uma experiência igualmente de carinho.

Bonitos também os sonhos dela para os em situação de vulnerabilidade. A exploração pela qual passou, no Brasil e em outros países, a partir do aliciamento, não a tornou amarga e nem a endureceu. Tem olhos além; tem coração com Natal, aberto à graça de Deus.

Feliz Natal de Belém a você que me lê!

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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