Predadores

15/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Minha querida amiga Cláudia Marzia Ferreira de Souza Costa tem me falado sobre predadores. Sabe o quanto eles inutilizam a vida das pessoas e as transformam em lucro. Segundo ela, é grande o risco de uma mulher sozinha, pois, quase sempre, há um predador que a observa e pode utilizar de sua carência para conseguir interesses outros.

Indicou-me para ver as lives da professora Danny Boggione. Não ouvira falar dela. É uma brasileira que mora na Turquia há 20 anos, onde criou uma rede de apoio a mulheres em situação de perigo no país através de canal no Youtube. O canal se chama "Sobrevivendo na Turquia" e tem 191 mil inscritos. Dentre outras questões, Boggione avalia relacionamentos iniciados muitas vezes à distância pelas redes sociais. É dura com quem acredita em promessas do "príncipe on-line" na Turquia. 

O primeiro vídeo a que assisti dela foi sobre um namoro virtual. A mexicana Blanca Arellano, de 51 anos, conheceu, em um aplicativo de jogos na internet, o peruano Juan Pablo Jesus Villafuerte Pinto, 37, estudante de medicina e biotecnologia. Após meses de namoro, aceitou o convite para visitá-lo no Peru. Foi matéria no Estado de Minas em 25 de novembro.

Após passar uma semana conhecendo a cidade ao lado de Villafuerte e contar à sua sobrinha que estava apaixonada, Blanca desapareceu. Parentes dela, preocupados, buscaram ajuda das autoridades para iniciar uma operação de busca. Antes, fizeram contato com Juan Pablo, que afirmou ter a mulher se cansado dele, terminaram o namoro e ela decidiu voltar para o México.

Dois dias depois, as autoridades peruanas anunciaram ter encontrado a cabeça de uma mulher, com o rosto deformado, em uma praia perto da casa do estudante de medicina em Huacho. Horas mais tarde, os agentes da polícia localizaram um dedo decepado com um anel de prata e, em seguida, o resto do corpo no mar. O canal passa em frente à Universidade Nacional Faustino Sanches Carrion, onde Villafuerte estudava medicina. E traços do sangue de Blanca foram encontrados em seu apartamento.

Com as pistas apontando para o estudante, a polícia o prendeu e, segundo os investigadores, o peruano matou Blanca e retirou seus órgãos para vendê-los posteriormente. A polícia informou que ele também teria postado vídeos dos órgãos da vítima nas redes sociais, alguns dias depois de seu desaparecimento. O estudante nega seu envolvimento.

Como diz a Cláudia Mazia: "A realidade supera a ficção".

Na live, Danny Borgionne apresenta uma tabela de preço de órgãos em dólares: dois olhos - 1.500$, estômago - 500$, coração - 120.000$, rins - 250.000$, mão e antebraço - 385$, artérias coronárias - 1500$, ombros - 500$, fígado - 157.000 $, sangue - 300$, bexiga - 1200$. Macabro. E pensar que há quem comercializa e quem compra a morte de alguém. Faz sangrar a alma.

O predador maneja bem um bisturi e possui extrema capacidade de persuasão. É um artista para atrair vidas que não tiveram ou não têm os cuidados e a proteção necessária. É o olheiro que busca a fragilidade de alguém, para colocá-la sob seu poder funesto. É a fuligem que esconde rosto para arrancar o coração. É o coveiro de sonhos.

Infelizmente, ele se encontra mais perto do que pensamos. Tantas vezes no celular que se tem na mão.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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