Amor ou ódio

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As Eleições de 2022 certamente vão se tornar um marco histórico na ciência política brasileira, uma vez que de forma simultânea estão presentes: a polarização, o radicalismo, a intolerância e o engajamento. Essas tantas características amontoadas, me fazem ter certeza de que se tornarão um tema estudado e analisado em excesso pela cadeira. Todavia, se observarmos, há um ponto que merece destaque e uma avaliação mais profunda: a demonização das pesquisas eleitorais.

Os ataques às sondagens de intensão de voto eram restritos às redes sociais, mas à medida que as pesquisas registraram erros frequentes em vários lugares da Federação, a confusão e prejuízo causado ao eleitor fez com que essa fronteira fosse ultrapassada. A parti daí, a discussão ganhou força no Congresso Nacional e partidos que sairiam fortalecidos das urnas passaram a defender a punição para os institutos de pesquisa que não acertaram no resultado, fora da margem de erro. Projetos já se desenharam por lá, prevendo penas que podem chegar a 10 anos de prisão. Há até um movimento para instalação de uma CPI, a fim de apura a manipulação fraudulenta e desleal das pesquisas eleitorais.

A meu ver, o assunto deve ser discutido com muita responsabilidade e cautela, considerando que estamos em meio a uma disputa eleitoral em segundo turno, das mais acirradas dos últimos tempos. Longe de querer defender os institutos de pesquisa, entendo que o momento não é oportuno para esse tipo de discussão, mas logo após o deslinde das eleições, esse tema deve ser seriamente discutido e avaliado, uma vez que confunde sobremaneira os eleitores, interferindo de forma direta no sufrágio.

Vejamos um dado que consta na pesquisa Datafolha divulgado há alguns dias.

Segundo o instituto de pesquisa, 10% dos eleitores disseram ter escolhido o candidato a presidente na véspera ou no dia do primeiro turno. É um percentual maior do que os que votaram em Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que ficaram em terceiro e quarto lugar, respectivamente. Sim, é muita gente. Se aplicarmos ao universo de pessoas que compareceram às urnas, são quase 12 milhões que decidiram o voto em cima da hora. Número mais que suficiente para modificar o cenário eleitoral. Dessa forma, não há como o instituto captar tal movimento, tendo em vista que não tivemos, neste ano, as tradicionais pesquisas de boca de urna.

Até aí tudo bem, no que se refere ao percentual dos eleitores que decidiu em quem votar na véspera ou no dia das eleições. Mas o abacaxi não está nesse tipo de resultado, mas sim nos manipulados, com intensão de direcionar votos ao candidato que melhor lhe provier, apresentando pesquisas hiper estimadas, numa espécie de pesca predatória por votos, prática que deve ser punida com rigor em benefício da democracia. No fim das contas, o brasileiro ama pesquisa, mas também odeia, principalmente se o candidato preferido estiver atrás no resultado.

José Roberto Charone é advogado (charoneadvogados.com.br)

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