Transverberação do coração

Família com dificuldades, mas que não se perde do essencial

01/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Maria Cristina Castilho de Andrade

No dia 27 de agosto, os Carmelitas celebraram a festa da Transverberação do coração de Santa Teresa D'Ávila(1515-1582).

Meu querido diretor espiritual, confessor e amigo, Padre Márcio Felipe de Souza Alves, além de outras atividades na Diocese, Capelão na Congregação das Irmãs Carmelitas Teresianas, na data, chamou-me a atenção para a Santa, que tanto se inflamou de amor por Jesus, que seu coração ficou marcado. Uma forte experiência mística.

Ah, como gostaria que também me incendiasse por esse Amor, a ponto de ser apenas misericórdia!

Teresa D'Ávila relatou em seus escritos uma das experiências místicas que a marcou e a levou a fazer um voto especial a Deus, a partir de ter visto um anjo em forma humana à sua esquerda.

Segundo ela - e eu creio -, "Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. (...)É um contato tão suave entre a alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência a quem pensar que minto" (O Livro da Vida 29, 13).

Transverberação é a experiência mística de ser transpassado no coração causando uma grande ferida.

O voto feito, para corresponder a esse presente divino: fazer sempre o que lhe parecesse mais perfeito e agradável a Deus.

Segundo a ACI Digital -serviço encabeçado pela ACI Prensa, na autópsia de Santa Teresa, no coração estava a cicatriz de uma grande e profunda ferida.

Na semana passada, na reunião da Pastoral da Mulher - Santa Maria Madalena, ouvimos o coração pleno de louvor da avó, cujo neto de dois anos sobreviveu à linha de cerol que lhe atingiu o pescoço, necessitando de 14 pontos, intubação... Interessante que, desde o acontecido, não ouvi por parte de algum familiar uma palavra de raiva, protesto, descrença, indignação, desejo de vingança... Nem mesmo em relação à primeira pessoa que a mãezinha pediu socorro, mas negou com o propósito de não sujar o carro. Tão forte a presença da fé que, de acordo com a avó, alguns ruídos de comunicação entre familiares das duas famílias se tornaram passado. Ela relatava o fato com os olhos brilhando de reconhecimento pela grandeza e pelo amor de Deus.

Família com dificuldades financeiras, mas que não se perde do essencial.

No último domingo, uma moça, cujo irmão se encontrava no paliativo do hospital, ao haver uma superação e ele retornar para casa, também bendisse a Deus, com inúmeros louvores. A doença do pai fez com que os irmãos se reconciliassem.

Penso que há sinais de transverberação ao notarmos a presença quase palpável de Deus e nos emocionarmos a ponte de doer. Por um motivo ou outro, contudo, até sem motivo, deixamos vazar o amor. Falta-nos um voto firme como o da Santa.

De sua experiência mística, ela nos deixou uma poesia intitulada "Meu Amado é para mim", dos quais destaco alguns versos: "Quando o doce Caçador/ Me atingiu com sua seta, / Nos meigos braços do Amor/ Minh'alma aninhou-se quieta. / E a vida em outra, seleta, / Totalmente se há trocado:/ Meu amado é para mim, / Eu sou para meu Amado..."

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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