O piracicabano Antônio Daniel Ribas, 57 anos, é o que chamamos literalmente de uma pessoa vencedora. Nasceu deficiente visual, mas esse problema nunca foi um obstáculo. Pelo contrário, foi um “combustível” para que chegasse ao sucesso tanto na área profissional, quanto na vida pessoal.
Formou-se professor na área de Letras (de Português e de Inglês) e é funcionário público do Estado há mais de 30 anos. Casou-se duas vezes e tem duas filhas. Um exemplo para aqueles que pensam em desistir nas primeiras adversidades.
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“É possível sim, independente da deficiência, a gente chegar aonde quer. Não é a deficiência que vai nos dar a condição ou não”, ensina o professor, que exerce sua profissão como qualquer outro docente, sem privilégios ou concessões.
Daniel, como é conhecido, nasceu cego em consequência de uma toxoplasmose (uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma Gondii, que pode ser transmitida para o feto e causar graves malformações) durante a gravidez de sua mãe. “Foi uma surpresa muito grande para minha família. Minha mãe era muito jovem, com apenas 20 anos”, afirma.
Ele cresceu em uma época em que o deficiente era, muitas vezes, segregado da sociedade, pois não havia os direitos que têm atualmente. Porém, teve uma infância sociável, convivendo naturalmente com as outras crianças, e uma fase adulta com todos os direitos e deveres de qualquer outra pessoa.
Na época em que começou os estudos, Daniel ingressou em uma escola especial do Lions Clube, onde, aos 7 anos, foi alfabetizado em Braille. Depois disso, aos 9, foi para a escola regular, onde se formou no ensino básico.
Em alguns momentos, Daniel estudou com seus irmãos, mas na maioria do tempo teve de ser independente e aprender a “se virar” sozinho. Segundo ele, esse tempo foi muito bom porque aprendeu a vencer todas as dificuldades: desde o preconceito e a desconfiança de algumas pessoas até as próprias dúvidas sobre sua real capacidade.
Após o ensino básico, foi para a faculdade; estudou Letras em São Paulo e se graduou em 1992, aos 25 anos. “Quando me formei, saí com o diploma na mão, sem saber o que fazer a partir de então”, lembra. “Quando voltei para Piracicaba, tive de arrumar uma forma de trabalhar. Aí, eu fui à DE (Diretoria de Ensino de Piracicaba). Na época, foram muito compreensivos comigo”, recorda.
Ao ingressar no Estado, algumas escolas não quiseram aceitá-lo por sua condição de deficiente visual. Quando, enfim, conseguiu trabalho, o maior problema na sala de aula eram as adaptações que tinha de fazer para lecionar – como, por exemplo, pedir para algum aluno colocar o conteúdo na lousa.
Muitos colaboravam, outros não. Na maioria das vezes, porém, ele contava com o bom coração de estudantes, colegas professores e funcionários. Mas, independente, de qualquer situação, Daniel nunca foi de reclamar por que queria mostrar que era capaz.
“Havia alguns alunos que ajudavam, mas outros não; eram meio malandros e faziam ‘arte’”, conta. “Às vezes, eu ficava com medo, mas não podia reclamar. Mas muitos ajudavam, alunos e funcionários”, reconhece.
Hoje, Daniel está readaptado e trabalha na Sala de Leitura de uma escola de Piracicaba. A rotina dele é organizar o espaço, fazer projetos e auxiliar os estudantes na escolha e administração dos livros. E está feliz. Pleno de que faz um bom trabalho. Também está na expectativa da aposentadoria, que deve sair em alguns poucos anos.
“Eu não acredito muito em coincidência e sim em providência. No decorrer da minha vida, foram surgindo muitas oportunidades e eu fui aproveitando todas elas, não as deixava passar”, finaliza o professor.