CRIME NA INTERNET

Hacker de Araçatuba conta como impediu estupro de menor em SP

Por Maryla Buzati | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Redes sociais
Vitória na delegacia da DHPP, em São Paulo
Vitória na delegacia da DHPP, em São Paulo

A hacker Vitória Okida, de Araçatuba, impediu o abuso sexual e morte de uma adolescente de 15 anos em São Paulo, em março de 2024. Além deste, ela já impediu que ocorressem outros crimes na internet e colaborou com prisão de criminosos que atuam online, trabalhando com a polícia.

Vitória é uma hacker ética que tem uma empresa de tecnologia da informação. Ela é especialista em redes sociais, recuperação de contas e de dados. Seu trabalho consiste em cuidar da segurança das contas dos clientes, recuperação em casos de invasão. Além disso, oferece serviços em prol da segurança das pessoas na internet, colaborando com a polícia em todo o país em investigações cibernéticas de casos como stalking, pedofilia, pornografia infantil, abusos, violência, organização de ataques a escolas, massacres e faz monitoramentos em geral.

Uma plataforma em que Vitória faz investigações cibernéticas como voluntária é o Discord, que ficou muito conhecido na pandemia. Lá surgiram os servidores, que são como grupos, onde várias pessoas simultaneamente conversam entre si por chamadas de áudio e vídeo ou texto. É muito usado em partidas de jogos. Porém, a hacker relata que também tem sido utilizado na prática de crimes horríveis, incitando a automutilação, produção, venda e transmissão de pornografia infantil e conteúdo vexatório ao vivo, apologia ao nazismo, maus tratos e torturas, com crianças e animais, organização e mentoria de ataques e massacres em escolas, planejamento de estupros de menores, dentre outros tipos de crimes.

Em março deste ano ela conseguiu capturar um estuprador que já monitorava há meses. Em um servidor, ele enviou mensagens dizendo que tinha um encontro marcado com uma vítima – uma jovem de 15 anos – em um shopping e expôs tudo o que pretendia fazer. O encontro estava marcado para o mesmo dia, então havia pouco tempo para agir. Ela precisava imediatamente avisar a família da menina.

“Ele realmente enviou a mensagem ‘acho que vou estuprar ela’. Esse indivíduo já tem uma extensa ficha criminal e várias vítimas de abuso”, conta Vitória. “Com os dados que ele enviou, conseguimos identificar o pai da adolescente, ao qual eu liguei e informei o que estava acontecendo. No começo ele estranhou e depois outro familiar me retornou perguntando sobre o assunto, pois acharam que era golpe. Me identifiquei novamente, expliquei sobre a investigação e orientei a família que levasse a vítima para prestar depoimento e registrar boletim de ocorrência na 4ª delegacia de pedofilia do DHPP (Departamento de Proteção à Pessoa), e assim eles fizeram”. Após isso, foram recolhidos os equipamentos eletrônicos da vítima e em seguida houve busca e apreensão na casa do acusado, no bairro Cidade Líder, em São Paulo.

Barbey

O criminoso deste caso é conhecido como “Barbey” e tem apenas 18 anos. Pela conta dele no Discord, foi encontrada uma troca de mensagens de texto com outra pessoa que manda para ele os nomes completos e CPFs de vizinhos da vítima. Depois ele pede o número de telefone do pai dela. Eles conversam e combinam que Barbey que está pensando em estuprar ela, mas antes vai pedir para ela “fazer algumas coisas” para eles.

O outro indivíduo acrescenta que ela tem umas “mancadas”, indicando que ela já fez algo errado na internet e que, por eles terem o contato do pai dela, poderiam usar isso como chantagem.

Depois, Barbey ainda diz que pretende internar ela, o que o outro acha uma boa ideia. Mas ele ainda cita outra possibilidade, de levar uma lâmina no encontro e passar no pescoço da vítima. “Posso comer e matar ela, né”, escreve.

Felizmente, com toda a ação da equipe de monitoramento, a colaboração da família e a polícia, o crime foi evitado e Barbey está preso.

Outros casos

Barbey é acusado de participar de uma série de crimes cibernéticos como produção, armazenamento e distribuição de pornografia infantil.

Um dos servidores que ele participou é o “The Kiss”, responsável pela organização do ataque à escola de Sapopemba, em São Paulo, em 2023, onde uma aluna de 17 anos morreu baleada na cabeça. Todos os organizadores estão presos. A operação Discord já conta com cerca de 100 pessoas presas ou apreendidas, em sua grande maioria menores de idade. “Essa operação só é possível graças ao trabalho em conjunto do Investigação Criminal, a jornalista Carla Albuquerque, os rapazes que ajudam na investigação e que atuaram nesse caso comigo”.

Vitória relata que já ajudou na resolução de muitos outros casos, como da influenciadora Elisa, no Japão, que estava sofrendo stalking a cerca de dois anos; a identificação de dois pedófilos em Araçatuba, em que um deles se masturbou para duas crianças no bairro Morada dos Nobres; a identificação do responsável pelo perfil “fofocas Bilac”; além de vários casos de possíveis ataques em escolas de Araçatuba e região, e outros com o monitoramento pelo Discord.

Questionada sobre a falta de segurança e prevenção a crimes no Discord, a hacker afirma que a plataforma é omissa. “Eles não estão nem aí para falar a verdade. Até um tempo atrás não tinha nem representante no Brasil. Agora tem porque eles foram obrigados. Mas de modo geral, eles nem colaboram com as autoridades”.

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