OPINIÃO

'O fruto amargo do extremismo'

Por Fabrício Correia | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Jornalista
Tânia Rêgo/Agência Brasil

O plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes desmantelado hoje pela Polícia Federal além de clara tentativa de golpe de Estado é o produto de um ambiente de polarização e ódio que foi deliberadamente cultivado ao longo dos últimos anos, em especial durante o governo de Jair Bolsonaro.

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Este episódio nefasto marca o ápice de uma estratégia que buscou transformar a política em guerra e adversários em inimigos a serem eliminados. Durante o governo Bolsonaro, o chamado “gabinete do ódio” emergiu como um núcleo estratégico dedicado à disseminação de desinformação e à corrosão do debate público. Com táticas amplamente baseadas em fake news, discursos inflamatórios e intimidação virtual, o gabinete do ódio estabeleceu uma narrativa polarizadora que dividiu o país entre “patriotas” e “traidores.”

Essa visão binária da política não apenas desumanizou adversários, mas também legitimou, para muitos, a violência como um instrumento de poder. O impacto dessa estratégia foi devastador. Instituições democráticas como o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e a própria Presidência da República foram alvos constantes de ataques verbais e simbólicos. Essas ações corroeram a confiança nas estruturas do Estado e incentivaram um sentimento de insatisfação que transbordou em atos concretos, como o ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

O plano de assassinato, denominado “Punhal Verde e Amarelo,” é uma continuidade lógica desse ambiente de radicalização. A ação envolvia membros das Forças Especiais e um agente da Polícia Federal, o que revela algo ainda mais preocupante: a infiltração de ideias extremistas nas próprias instituições que deveriam proteger a democracia. A tentativa de exterminar líderes eleitos e figuras centrais do sistema de Justiça não é um ato isolado de indivíduos descontentes, mas parte de uma estratégia ampla para subverter a ordem democrática e instaurar um regime autoritário, corroborada pelo ex-presidente.

O silêncio estratégico de Jair Bolsonaro diante desses acontecimentos não pode ser ignorado. Embora tenha deixado o poder, sua ausência em momentos críticos e sua recusa em condenar atos extremistas são indicativos de uma liderança que se esquiva de responsabilidades, mas cuja retórica ainda ecoa entre aqueles que enxergam no autoritarismo uma alternativa legítima. O ex-presidente, que durante seu mandato frequentemente desafiava instituições e questionava resultados eleitorais, ajudou a pavimentar o caminho para que ideias golpistas ganhassem terreno.

A democracia brasileira é resiliente, mas não invulnerável. Este episódio revelado exige não apenas respostas judiciais contundentes, mas também um esforço coletivo para desmontar as estruturas que sustentam o extremismo político. É fundamental que todos os envolvidos no plano sejam identificados e responsabilizados, independentemente de suas posições de poder ou influência. Contudo, a resposta institucional deve ir além da punição; é necessário promover um ambiente de diálogo e tolerância, combatendo a desinformação e reconstruindo os laços de confiança entre a sociedade e suas instituições.

O momento também demanda uma reflexão sobre o papel de cada cidadão na manutenção da democracia. A polarização extrema não surge no vazio; ela é alimentada pela omissão e pela complacência.

Combater o ódio exige coragem, seja para questionar narrativas mentirosas, seja para construir pontes em um cenário de divisão. No entanto, a verdadeira resposta ao extremismo está no fortalecimento da democracia. Não há atalho para a estabilidade política que não passe pelo respeito à pluralidade e pela defesa intransigente dos direitos fundamentais.

O Brasil enfrenta, mais uma vez, um teste histórico. O desafio não é apenas punir os culpados, mas garantir que as condições que permitiram o florescimento desse extremismo sejam extirpadas. A democracia, mesmo imperfeita, é o único caminho legítimo para o progresso. Preservá-la é mais do que um dever político; é uma obrigação moral. E, como sempre, ela resistirá, porque sua força reside na diversidade e na liberdade de seu povo. Que essa tragédia anunciada sirva como um marco para a reconstrução de um pacto nacional baseado no respeito, na justiça e na paz.

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