POLÍTICA

Flávio Paradella: A solidariedade hostil do evento de Bolsonaro

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Marco Massiarelli
Jair Bolsonaro faz um caravana por cidades do interior de SP nesta semana
Jair Bolsonaro faz um caravana por cidades do interior de SP nesta semana

Foi um dia de solidariedade hostil no evento convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira, 29, no Ginásio do Guarani. Durante praticamente todo o dia, Bolsonaro esteve no espaço para receber os apoiadores que atenderam ao chamado e compareceram para levar doações às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

O ex-presidente chegou às 10 horas, em ponto, e na entrada atendeu a imprensa em um cercadinho improvisado, do jeito que ele gostava. Refutou a pergunta de um entusiasmado repórter se o evento “era um dia de festa”. “Festa não. Hoje é um dia de solidariedade”, disse um cuidadoso ex-mandatário, acusado de ser oportunista por adversários por usar a tragédia gaúcha para realizar a caravana por cidades do interior de São Paulo.

Muitas pessoas passaram pelo ginásio para levar um donativo e outras tantas esperaram na longa fila para poder tirar uma foto com o ex-presidente.  Faziam isso com o intuito de estar perto daquele que idolatram, mas com aquela vontade de mostrar aos “rivais de esquerda” a força persistente do movimento conservador. Como diria a expressão popular: “para esfregar na cara”.

Já disse e repito, Bolsonaro, mesmo com todas as presepadas, segue extremamente popular e tem um poder imenso de mobilização. A redemocratização só tinha visto isso com Lula em seus melhores anos. Subestimar ou tentar diminuir um fato são erros primários e que podem ter consequências em 2026.

Por enquanto, Bolsonaro só fala em 2024. “Eu discuto 26 depois de 24”, disse o político que está inelegível, mas tenta reverter o quadro. De qualquer forma, 2026 está em 2024, pois o ex-presidente tenta eleger o máximo de prefeitos aliados para pavimentar um rumo de apoio consolidado para daqui dois anos. Será candidato? Hoje é impossível, mas a justiça brasileira muda seu entendimento tal qual o vento muda de direção. Uma coisa é certa, não há qualquer espaço neste momento para outra vertente e estamos presos a essa polarização Bolsonaro x Lula.

Intimidação

Triste ver a hostilidade e intimidação que sofreu a equipe da EPTV, afiliada à Rede Globo em Campinas. Bianca Rosa e Edvaldo de Souza são dois jornalistas do mais alto gabarito para a profissão em Campinas.

E mais, são seres humanos espetaculares que cultivam amizade e carinho durante as pautas com os colegas de todos os outros meios.

O ódio do Bolsonarismo pela Globo não é novidade e quem sofre são as pessoas que, gratuitamente, são agredidas, coagidas e aterrorizadas por estarem, simplesmente, trabalhando. Vou repetir, eles estavam trabalhando.

Profissionais competentes e pessoas maravilhosas sendo ofendidos e cercados por apoiadores ensandecidos.

Lamentável

Diante disso, a atitude com o episódio de um vereador democraticamente com o episódio foi, para dizer o mínimo, lamentável. Marcelo Silva, do PP, postou em suas redes sociais a ocorrência.

Em vídeo gravado pelo próprio ao lado da equipe de EPTV, o parlamentar diz: “Olha o que o pessoal tá gritando”. Os apoiadores de Bolsonaro gritavam “Globo Lixo”. Marcelo Silva ainda faz um zoom com câmera para mostrar a canopla do microfone para mostrar o símbolo da emissora.

Desnecessário, ridículo e infantil. Um posicionamento para “engajar” nas redes, mas que alimenta um feroz ódio.

Aqui não estou discutindo linha editorial. Estou citando a preocupação com integridade de profissionais e a liberdade para exercer a profissão, sem hostilidade, opressão e ameaças.

Marcelo Silva, na qualidade de vereador e advogado, tem elementos e conhecimento para entender o quão prejudicial e perigoso é fomentar essa situação.

Manifestação

Um pequeno grupo de torcedores bugrinos realizaram uma manifestação contra a presença de Bolsonaro no Ginásio do Guarani.

As palavras de ordem atingiam o ex-presidente e a diretoria do bugre, o presidente André Marconatto e o CEO Ricardo Moisés, por terem cedido o espaço para evento.

De acordo com as autoridades policiais que fizeram a segurança do entorno, não foram registrados incidentes.


Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br

Comentários

3 Comentários

  • ADRIANO A S ANDRADE 01/06/2024
    É uma farsa montada pelo BoZo que não se importa com ninguém, pois vide a pandemia que ria da morte por asfixia das pessoas em Manaus. É um malandro que engana os incautos.
  • Tati 31/05/2024
    Bolsomanada procura aparecer e não aceitar a derrota. Parece doente.
  • Pedro Carlo Tancredo 30/05/2024
    Fomentar o ódio entre os diferentes sempre é algo profundamente lamentável e que deve ser sempre evitado numa democracia. Da mesma forma, para evitar atitudes como essa a imprensa assim constituída precisa entender a sua responsabilidade e evitar manipulação política em artigos e reportagens. Cobrar o oponente é fácil e simplesmente isso não nos levará a mudar esse cenário, principalmente se os atores continuam hipocritamente pregando a paz e promovendo o ódio. Não nos esqueçamos que quem \"inventou\" o nós contra eles não foi Bolsonaro e muito menos o movimento conservador... Deixemos a hipocrisia de lado e assumamos todos a nossa responsabilidade em relação a democracia.