Doce de batata roxa

Na geladeira, em vidro esterilizado e bem fechado, esse doce dura um mês. Melhor companhia é um queijinho branco, fresco.

Por Sonia Machiavelli | 27/06/2021 | Tempo de leitura: 4 min
especial para o GCN

Ingredientes
1 quilo de batata doce roxa cozida
1 quilo de açúcar cristal
2 ramas de canela
Suco de um limão Taiti médio
1/2 xícara (chá) da água do cozimento da batata

A história da batata doce tem os pés fincados na América Latina. Ela surgiu na região da Cordilheira dos Andes e por ali se espalhou com a facilidade das plantas nativas. Tornou-se muito consumida em todo o continente e no Brasil entrou na dieta cotidiana do povo já no tempo da colonização. Presente nas roças dos índios muito antes da chegada dos portugueses, a espécie mais comum por aqui sempre foi a de casca e polpa brancas. Mas a rosa, amarela e roxa também se faziam presentes na mesa brasileira, embora em bem menor quantidade. Hoje encontramos facilmente as de cascas branca e rosa nos supermercados. As outras, não. Viraram raridades, sem que eu saiba por que e apesar de ter pesquisado muito. Mas estamos resgatando muitos produtos de nossa flora que por décadas ficaram esquecidos, como o inhame, o cará, o mangarito, a própria batata doce colorida e outros maravilhosos frutos da terra.

É curioso registrar a importância de um tubérculo tão essencialmente latino como a batata doce na culinária japonesa. De alguma forma, ela chegou aos nipônicos no áureo período em que os portugueses ainda dominavam os mares e, com a descoberta da América, levaram os produtos considerados exóticos a distantes plagas. De fácil cultivo, pouco exigente quanto ao solo, rapidamente a espécie se propagou pela ilha e ajudou a combater a fome em momentos de escassez de alimentos, pois contém calorias complexas, que são aquelas que o organismo demora mais a processar e por isso conferem maior saciedade a quem as ingere. Não é à toa que o pessoal das academias elege a batata doce como alimento básico. Por conta de cuidados com o corpo, acentuado nas últimas duas décadas, ela vem sendo cada vez mais consumida, seja cozida, frita, assada, ou sob a forma de pães, purês e chips.

Por muitos anos procurei batata roxa para fazer um doce que é um dos meus exemplos de comida de conforto. Apreciado na infância, nas quermesses de junho da igreja de Santo Antônio, às quais ia com minha irmã nas noites frias de junho, dele eu gostava do sabor e especialmente da cor. Não era na verdade roxo e sim, como ensinaria minha mãe, púrpura. Também não tinha a forma de cubinhos, como os produzia a saudosa Valdete, grande doceira de Franca. Acondicionados em copinhos, sua espessura era pastosa, como a da goiabada mole, e a gente comia com uma pazinha semelhante à dos sorvetes. Em busca dessa batata andei por muitos lugares e nada. Teria a Valdete um cultivo particular ou um fornecedor especial? Não sei. Minha última incursão no território dos tubérculos roxos aconteceu no supermercado São Paulo. Se nem ali, onde se encontra tudo quando há, não havia nem sinal, era melhor desistir. Foi o que fiz. Mas como dizem os psicanalistas, às vezes pensamos que enterramos um desejo, mas ele está lá, nos subterrâneos da memória ou de algum outro lugar abstrato. O fato é que na semana passada, ao entrar no espaço de legumes e frutas de um supermercado, em busca de batata doce comum para fazer um marrom glacê tupiniquim, vi ao lado algumas diferentes, com uma tabuleta onde estava escrito: “Batata doce roxa especial”. Nem acreditei! Comprei todas, que pesaram dois quilos. E fui pra casa, doida para chegar e fazer o doce, que é esse que mostro aos leitores antes que junho chegue ao fim.

Cozinhei com a casca na panela de pressão por quinze minutos, porque estava com pressa. Pode ser em panela comum. O importante é que fique bem macia. Assim que isso acontecer, retire do fogo mas não descarte a água que estará roxinha. Reserve meia xícara. Descasque as batatas enquanto quentes. Pique-as em pedaços pequenos e coloque-os no copo do liquidificador. Junte um pouquinho da água do cozimento e vá batendo aos poucos. Meça o purê. O açúcar cristal será na mesma proporção. Por exemplo, se obteve seis xícaras (chá) de massa, agregue seis de açúcar. Misture numa tigela grande até dissolver o açúcar. Coloque numa panela de fundo grosso (para evitar de grudar) e leve ao fogo. Assim que começar a ferver, junte o caldo de um limão taiti e duas ramas de canela. Baixe a chama e vá mexendo com colher de pau de vez em quando. Quando se ergue a colher com um pouco de doce e ele não cai rapidamente, está pronto. É só retirar os paus de canela, transfeir para uma compoteira, deixar esfriar e servir. Na geladeira, em vidro esterilizado e bem fechado, esse doce dura um mês. Melhor companhia é um queijinho branco, fresco.

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