13 de dezembro de 2025
MP DOS IMPOSTOS

Governo demite aliados de deputados que votaram contra medida

Por Raphael di Cunto | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/ Lula Marques, Agência Brasil
Cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e PSD foram exonerados.

O governo começou a demitir nesta sexta (10) indicados políticos de deputados que votaram contra a MP (medida provisória) do aumento de impostos, numa primeira ação para retaliar os integrantes da base governista que não têm seguido as orientações do Palácio do Planalto.

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Cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e PSD foram exonerados. Um integrante do Planalto diz que os aliados foram alertados de que essa votação era decisiva, e que aqueles que se posicionassem contra a medida provisória fariam a opção de sair do governo.

As primeiras consequências apareceram no Diário Oficial da União, com a exoneração dos superintendentes do Ministério da Agricultura no Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão. No Ministério dos Transportes, a superintendente do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) de Roraima perdeu o cargo.

As demissões causaram insatisfação principalmente no PSD, de acordo com deputados ouvidos pela Folha. Um líder da sigla classificou a ação do governo como pouco inteligente e sem sentido, já que a sigla foi a segunda com maior apoio à MP, atrás apenas do PT.

O PSD orientou voto contra a medida provisória, numa ação coordenada pelo presidente do partido, Gilberto Kassab. Já MDB declarou voto a favor. Ambas as bancadas racharam, no entanto. No PSD, foram 20 votos a favor do governo e 18 contra. No MDB, 16 votos governistas e 14 contra.

De acordo com parlamentares, as exonerações também alcançaram estatais, como Correios e Caixa Econômica Federal, com demissões em cargos de assessoria e administração regional. A saída de funcionários comissionados dessas empresas não é publicada no Diário Oficial.

A medida provisória era uma das principais apostas do governo Lula para manter a arrecadação crescendo em 2026 e evitar necessidade de corte de despesas e investimentos no ano eleitoral. Ela tinha impacto previsto de R$ 20 bilhões no Orçamento, e agora o Executivo terá que encontrar outras fontes de receita ou então reduzir seus gastos.

A derrota, por 251 votos a 193, levou o governo a retaliar aliados que foram infiéis, partidos que se dizem na oposição e tinham cargos também foram afetados, a exemplo de indicados do PP e do PL na Caixa, como revelou o Painel.

Aliado do vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), Rodrigo de Lemos Lopes foi destituído da vice-presidência de sustentabilidade e cidadania digital, conforme anunciou o banco em comunicado ao mercado nesta sexta-feira. Em seu lugar, assumirá de forma interina Jean Rodrigues Benevides, diretor executivo de sustentabilidade e cidadania digital.

José Trabulo Junior, consultor do presidente do banco, Carlos Vieira, desde 25 de setembro de 2024, foi retirado do cargo também. Ele é aliado do presidente do PP, Ciro Nogueira, como mostrou a Folha. Piauiense, Trabulo integrou ainda o Conselho Fiscal da Caixa Corretora, uma das subsidiárias do banco, e foi diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no governo Bolsonaro.

Outros alvos, de acordo com integrantes do governo, devem ser pessoas indicadas por políticos do União Brasil e do PP. As duas siglas anunciaram o desembarque do governo e trabalham para fortalecer uma candidatura adversária à do presidente Lula (PT) em 2026.

Na quarta (8), dia de votação da medida provisória, PP e União Brasil puniram Celso Sabino (União Brasil) e André Fufuca (PP) pela decisão de permanecer nos ministérios do Turismo e do Esporte. Eles foram afastados de cargos de direção, e Sabino enfrentará um processo de expulsão da sigla.

Apesar desse movimento, políticos do União Brasil e do PP mantêm controle de estatais como a Caixa Econômica Federal, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), a Telebras e diretorias dos Correios, além de diversas indicações em cargos regionais dos ministérios.

A estratégia do governo Lula é contar com parte do centrão em sua campanha de 2026, assim como ocorreu há quatro anos. A demissão dos infiéis, segundo governistas, é o primeiro passo para essa limpa e para fortalecer quem de fato estará ao lado do petista na eleição presidencial.