'CRIME DO FUTURO'

Golpes digitais disparam e delegado pede cautela

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Ilustrativa
Criminosos usam a pressão e a emoção como ferramentas do golpe
Criminosos usam a pressão e a emoção como ferramentas do golpe

O número de crimes digitais praticados no ano passado cresceu 45% no Brasil em relação ao ano anterior. Em 2024 foram cerca de 5 milhões de fraudes. Estatísticas mostram que 1 em cada 4 brasileiros sofreu alguma tentativa de golpe e cerca de metade dessas pessoas acabou se tornando vítima. O levantamento é da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP).

De acordo com o presidente da associação, especialista em direito digital e cibersegurança, Francisco Gomes Júnior, a base de dados da ADDP é confiável, porém os números definitivos sobre a quantidade de golpes em 2024 são divulgados oficialmente durante os três primeiros meses do ano. "O que temos neste momento é uma amostra confiável que nos permite as primeiras considerações e balanço sobre o ano de 2024, levando em consideração os dados oficiais disponibilizados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública e por outras consultorias, mostrando aumento de quase 50% no número de golpes praticados em 2024".

Em Bauru não foi diferente. O delegado Alexandre Protopsaltis, coordenador do Setor de Investigações Gerais (SIG), explica que essa modalidade de estelionato é o "futuro da criminalidade" e cresceu muito, inclusive, com facções criminosas começando a atuar nesta área. Ele acredita que os números podem ser ainda maiores por conta da subnotificação.

"A vítima se sente culpada. Então, além de ter o prejuízo financeiro, ela fica envergonhada quando percebe que foi enganada e até se culpa por ter sofrido o crime. Como fica constrangida, nem todos os casos são registrados", explica.

Em Bauru, um dos crimes digitais mais frequentes, segundo o delegado, é o "golpe do intermediário". Nessa modalidade, um criminoso se apresenta ao vendedor de um veículo na internet como intermediário de um negócio e diz que vai revender o item. O golpista pede para tirar o anúncio do ar e o recoloca com um preço bem abaixo para atrair um comprador. Em seguida, começa a manipular os dois lados para, no fim, ficar com o valor da venda e desaparecer. "O interessante desse golpe é que as duas partes vêm até a delegacia uma desconfiando da outra", afirma o delegado.

No cenário Nacional, segundo a ADDP, as modalidades mais praticadas permanecem sendo a de golpes bancários, phishing (cada vez mais sofisticado) e golpes sociais, que são aqueles em que a engenharia social convence a vítima a tomar alguma atitude que lhe causa prejuízo financeiro.

A pressão e a emoção, inclusive, são as principais ferramentas dos golpistas para extorquir as vítimas. Por isso, Alexandre recomenda cautela em negociações e transações financeiras. "Você precisa redobrar os cuidados e sempre desconfiar. Seja em algo positivo ou negativo, o golpista tenta induzir a vítima a uma sensação de urgência, usando um benefício ou prejuízo imediato. Por isso, a pessoa acaba agindo de forma emocional. É sempre importante manter a calma e a cautela nesses momentos", pede o delegado.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Gomes Junior ressalta que os golpes foram aperfeiçoados com o uso da inteligência artificial (IA), que consegue simular com perfeição a voz e até imagem de pessoas, o que torna qualquer pedido mais crível para quem o recebe. "O prejuízo certamente é bilionário e em breve teremos um número mais definitivo, mas golpes do PIX, do falso contato bancário, que se combinam com roubos e furtos de celular com a tela desbloqueada contribuíram decisivamente para esse crescimento", conclui.

Em Bauru, ainda não é possível constatar um aumento de golpes usando IA, segundo o delegado. "Mas é algo que preocupa bastante. Eu acredito que num futuro bem próximo, essa tecnologia vai se popularizar muito entre os criminosos", afirma.

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