"Se eu não tivesse ido no dermatologista poderia ter se espalhado e tudo seria muito pior." Não passava pela cabeça de Laura Kotscho, 21, que o abuso na exposição ao sol poderia trazer consequências, ainda na idade dela. A estudante conta que, durante uma visita de rotina ao médico, descobriu uma pinta atrás do joelho que, na visão do profissional, deveria ser retirada para uma biópsia. Após a avaliação, ela descobriu se tratar de um melanoma, um tipo mais raro e agressivo de câncer de pele.
O melanoma, quando comparado com outros tipos mais comuns - como o carcinoma basocelular - apresenta mais chances de se espalhar para outras partes do corpo. Apesar disso, por ter sido detectado em fase inicial, uma cirurgia de retirada da área de pele próxima do tumor foi suficiente para curá-la. "Vista pelos meus olhos era uma pinta minúscula. Mas por causa dela eu tive que tirar uma porção enorme da minha pele ao seu redor. Temos sempre que ficar de olho na nossa pele muito atentamente e visitar um dermatologista com regularidade", pontua.
A jovem conta que, depois da retirada do tumor, passou a fazer um acompanhamento frequente com o dermatologista e precisou retirar outras pintas, que no futuro, poderiam acabar se tornando malignas. Depois disso, também precisou deixar de tomar qualquer tipo de sol entre 10h e 16h. Ela ressalta a importância da prevenção para evitar que as pessoas cheguem a essa situação. "É um alerta para todos os jovens que como eu não esperavam que poderiam ter câncer de pele. Muitas vezes a pessoa já tem uma predisposição genética e o abuso do sol serve como um catalisador."
CUIDADO PRECISA VIR DESDE CEDO
Pediatra e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Mauro Fisberg, 71, conta que quando era criança tomava sol sem qualquer cuidado ou prevenção. "Na minha infância eu não tinha noção nenhuma de proteção. A prevenção ao câncer de pele não era muito difundida", relata. Aos 40 anos, descobriu o primeiro câncer de pele - do tipo carcinoma basocelular - durante uma visita ao dermatologista. Anos depois, descobriu mais dois tumores do tipo mais agressivo, o melanoma.
Mauro conta que graças às avaliações periódicas conseguiu descobrir o câncer cedo e não teve problemas mais graves. Ele ressalta a importância de ficar atento aos sinais e que eles podem aparecer nas situações mais cotidianas. "Uma vez eu fui no barbeiro e ele me apontou uma lesão estranha na cabeça. Eu dei importância a esse sinal, fui ao médico e consegui descobrir cedo o problema", afirmou. Em sua experiência como pediatra, ele atende muitos adolescentes que, segundo ele, não dão importância para a prevenção e fala que sempre procura orientá-los para começar a se cuidar desde cedo.
"O maior recado que eu tenho para dar, com base na minha experiência, é passar protetor solar e fazer o controle frequente de possíveis lesões", defendeu.
PROTEÇÃO
Dermatologista e professora titular da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Valéria Petri, defende que a palavra fundamental para prevenir o câncer de pele é: equilíbrio. Segundo a professora, uma pessoa que toma sol regularmente deve procurar evitar o horário das 10 às 16h e passar protetor solar em períodos de exposição prolongada por maior proteção. "Além dos benefícios trazidos pela correta absorção de vitamina D, a pele vai ganhando uma camada protetora, que dificulta a entrada dos raios UV (ultravioletas) [mais prejudiciais à saúde] e evita a formação de queimaduras e bolhas", afirmou.
De acordo com a dermatologista, as pessoas mais vulneráveis são as com a pele muito clara e que não tomam sol com regularidade e, nas poucas vezes que fazem isso, abusam. "Por exemplo, um fator de risco são pessoas que passam a semana inteira no escritório e que nos finais de semana vão ficar horas no sol sem proteção", afirma. "O sol é vida. Ele só é ruim se tiver abuso. As células não podem tomar susto com o sol", completou a especialista. O "susto" a que Valéria se refere são as queimaduras - que formam bolhas e geram o descascamento da pele -, que, quando acontecem de forma repetida, podem gerar alterações nas células e causar tumores.
POLÍTICAS PÚBLICAS
A Fundação Oncocentro de São Paulo estima que, em 2023, foram registrados 60 mil casos de câncer de pele no estado. Dados da Secretaria de Estado da Saúde, por sua vez, apontam que, de janeiro a novembro de 2023, 14.745 pessoas foram internadas para tratar câncer de pele - o que representa 6,2% de aumento em comparação com o registrado em 2022, quando 13.881 pacientes foram internados para o tratamento da doença.
A Alesp, com o intuito de incentivar políticas públicas para reduzir os casos da doença, instituiu, através da Lei 10.775/2001, a Semana Estadual de Prevenção ao Câncer de Pele, de autoria do ex-parlamentar Paulo Julião. Também está em tramitação - na Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento - o PL 1.155/2019, de autoria do ex-deputado Coronel Nishikawa, que torna obrigatório o fornecimento de protetor solar para pessoas que fazem ou concluíram o tratamento de câncer de pele no estado de São Paulo.