Parece que a chamada inteligência artificial é um pedaço quase inocente do pior que pode existir na tecnologia cibernética. Se é somente na superfície em que podemos agir, ao menos, remunerar quem cria é sempre uma justa medida, independente se o produto for usado para aprendizagem de máquina ou de gente. Para fins didáticos, já há a possibilidade de cessão dos direitos autorais, mas o que as big techs querem é apenas expandir suas já generosas margens de lucro, vemos pela pressão política e jurídica que fazem. Em breve saberemos o que dirá a Câmara dos Deputados e como será a regulamentação e fiscalização posteriores sobre conteúdos. Quiçá comecem a olhar para a deep web também.
De forma mais analógica e não nebulosa, a disputa envolvendo música gravada pela cantora Adele e uma anterior, de Toninho Geraes, interpretada por Martinho da Vila, é mais um caso de plágio envolvendo artistas brasileiros. Aos ouvidos, o som é o mesmo, mas deixemos correr o devido processo legal.
Por outro lado, gravações inéditas de Michael Jackson foram descobertas em um depósito abandonado e é interessante o viés econômico de músicas inéditas do cantor pop. Enquanto os fãs e estudiosos da evolução musical gostariam de saber o que são essas composições e como o conjunto fora pensado pelo autor, os mercadores da cultura querem apenas lucrar com o material. Pelo jeito, leiloar as fitas é mais importante do que remasterizá-las e tornar conhecido seu conteúdo. Ouvidos sedentos por boa música querem que mais este imbróglio também se resolva logo.
O autor é pesquisador na Unesp – Rio Claro.