OPINIÃO

O que levamos para 2025

Por Claudia Zogheib |
| Tempo de leitura: 3 min
A autora é psicanalista, especialista pela USP – Departamento de Psicologia, Psicóloga Clínica formada pela USC, responsável pelas páginas Cinema e Arte no Divã e Auguri Humanamente

A parada para refletir sobre tudo o que nos acontece passa pelo quanto nos disponibilizamos internamente com coragem para rever as próprias atitudes: o quanto fomos sábios, quais foram as incertezas, quantas vezes agimos segundo os próprios desejos, porque algumas vezes fugimos deles, o que pensamos com cuidado, do que não conseguimos fugir.

Mais um ano termina, e num momento de lucidez, se nos permitimos parar para pensar além das coisas práticas, teríamos a oportunidade de repensar questões subjetivas que norteiam nossas conquistas, tudo o que nos acontece e o que é inegociável para o próximo ano.

Somos a mistura de todos os acertos e erros, e o que fica de tudo o que vivemos será descrito se pensamos sobre nossas vivências, que enquanto não olhadas, não nos permite entender o que exatamente nos pertence, o que deveríamos deixar em 2024, e o que levamos conosco para o próximo ano.

Na simbologia do Ano Novo existe uma brecha de reconciliação com nós mesmos onde a reflexão acerca dos nossos acertos e erros nos dá um ponto de convergência que permite acessar mudanças que surgem a partir de uma conexão que facilita enxergar até onde podemos ir em nossas relações, e onde nos perdemos no caminho que nos distancia de nós mesmos.

Para que um Ano Novo funcione, será necessário entender o quanto queremos ser protagonistas de nossas vidas versus deixar rolar o contato com a nossa própria subjetividade, aquela que interfere em tudo o que fazemos, em como agimos desde o momento que acordamos.

Desejamos que um Ano Novo aconteça desejantes de transformações na esperança de atingir o novo, ao mesmo tempo que a repetição é soberana na pulsão de morte e nos acompanha fazendo repetirmos velhos costumes, sintomas que ainda não conseguimos olhar a ponto de transformá-los em modelos novos.

Um ano se torna novo quando nos acessamos, porque de resto, reproduzimos atitudes que não nos pertence, e deixamos rolar uma parte desconhecida que nos domina e que age em resposta a atitude do outro que continua dentro de nós, fruto de uma falta de reflexão que não nos permite rever atitudes e nos apropriar de nós mesmos. Fazemos cisões, qualificamos as próprias atitudes segundo as conveniências seguindo traumas que não foram elaborados e que cumprem à risca modelos criados pela nossa falta de conexão com nós mesmos que nos faz viver a ilusão de um "eu" que ainda não se conhece, e no pior cenário, usamos de onipotência para engendrar o futuro com garantias que nascem da ilusão e do desconhecimento de nós mesmos.

O novo significativo nem sempre está listado quando pensamos nos desejos para o próximo ano, mas se apresentam quando lidamos com situações que nos forçam ter que nos olharmos, às vezes nos "obrigando" a modificar planos, nos colocando no inesperado quando temos disposição interna para estar nas situações transformados pela experiência subjetiva, aquela que torna possível nos colocarmos de maneira inteira e nova nas situações. Se você está feliz viva suas alegrias, se está triste porque perdeu alguém em 2024, esteja por inteiro nesta experiência, não fuja dela, porque é através desta imersão que você conseguirá elaborar sua dor, transformando seus sentimentos em algo que lhe dê possibilidades para prosseguir com lembranças genuínas que foram transformadas pela experiência do luto.

Ano Novo é saber do próprio espaço mental, escolher acessá-lo, se reinventando a partir do que encontramos e descobrimos de nós mesmos. É todo dia, todo ano, toda hora, num tempo que só vai para frente, e é justamente por isto, que a cada ano solar sentimos o desejo de rever o que deixamos e o que levamos na permanência de um tempo que muda a cada segundo.

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