O homem de 31 anos que esfaqueou o pescoço de sua ex-namorada a atacou enquanto ela carregava o filho do casal no colo. Conforme o JC noticiou, o caso aconteceu por volta das 18h30 da terça-feira (10), no bairro Gasparini, em Bauru. A vítima está internada em estado grave no Hospital de Base. Após sofrer o corte no pescoço, ela tentou fugir com a criança de um ano, mas caiu no chão devido à perda de sangue. O bebê foi levado à UPA do Bela Vista e ficou em observação, mas já está sob os cuidados do avô. O agressor se feriu no pescoço com uma faca após o crime, foi levado ao hospital e liberado algumas horas depois.
A tia e mãe de consideração da vítima revelou ao JC os detalhes do dia do crime e do histórico de violência do agressor.
De acordo com a tia, eles tiveram um relacionamento breve que gerou a gravidez. O homem, segundo ela, sempre dava sinais de agressividade. A mulher teria, inclusive, pedido uma medida protetiva contra o ex-companheiro devido a outros episódios de violência. A tia relata que em um dos casos, o autor do crime havia ameaçado sua ex de morte, mas ela conseguiu escapar. A tia também conta que, após as agressões, o homem se mostrava arrependido e tentava se reaproximar da vítima.
Com o nascimento da criança, o agressor, que chegou a negar ser o pai, passou a se aproximar da vítima e insistir para ver o filho com frequência. A jovem, que mora com seu pai, encontrava o homem eventualmente em outros pontos da cidade para que ele pudesse ver a criança.
Dia do crime
No dia dos fatos, a jovem, que trabalha como técnica de enfermagem, buscou seu filho na creche. Ela caminhava pelo bairro quando parou na casa de uma amiga da igreja. O homem é vizinho desta mulher e ouviu a voz da vítima.
Segundo relata a tia, ele saiu da residência completamente descontrolado e gritando com a mulher. O motivo da raiva seria a vítima ter parado na casa da amiga e não na dele. A jovem entrou na casa para tentar acalmá-lo e poucos minutos depois saiu correndo, pedindo socorro e sangrando. Os vizinhos a socorreram com uma toalha enrolada no pescoço até que o Samu chegasse.
De acordo com a tia, o homem deu duas facadas. Os cortes foram tão profundos que a mulher precisou passar por uma cirurgia de reconstrução das cordas vocais. Ela descreve como uma tentativa de degolar a jovem.
Ciclo de violência
De acordo com o Instituto Maria da Penha, o feminicídio pode ocorrer após as vítimas se envolverem em um ciclo de violência com os parceiros. A organização divide esse ciclo em três fases: o aumento da tensão (fase 1); ato de violência (fase 2); arrependimento e comportamento carinhoso (fase 3).
Na primeira fase, o agressor mostra-se tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. “Ele também humilha a vítima, faz ameaças e destroi objetos. A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo e desilusão são apenas algumas. Em geral, a vítima tende a negar que isso está acontecendo com ela, esconde os fatos das demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez algo de errado para justificar o comportamento violento do agressor. Essa tensão pode durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada vez mais, é muito provável que a situação levará à fase 2”, afirma a entidade.
No “ato de violência” (fase 2), toda a tensão acumulada se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial.
“Mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um poder destrutivo grande em relação à sua vida, o sentimento da mulher é de paralisia e impossibilidade de reação. Aqui, ela sofre de uma tensão psicológica severa (insônia, perda de peso, fadiga constante, ansiedade) e sente medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, confusão e dor. Nesse momento, ela também pode tomar decisões − as mais comuns são: buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor”, completa.
Já a fase 3, também conhecida como “lua de mel”, se caracteriza pelo arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. “A mulher se sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que ‘vai mudar’. Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a demonstração de remorso, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência entre vítima e agressor”.
Por fim, a tensão volta e, com ela, as agressões do início do ciclo.
O instituto também afirma que, com o tempo, o intervalo entre as fases diminui e muda de ordem. A organização recomenda que as mulheres denunciem os agressores e saiam do ciclo da violência.
O disk denúncia para violência doméstica é o 180.