OPINIÃO

Meu amigo Mário

Por Alfredo Enéias Gonçalves d'Abril, professor universitário aposentado |
| Tempo de leitura: 3 min

Mais feliz do que era, normalmente, Mário jubilou-se de felicidade ao completar o tempo de serviço prestado ao Estado para obter a aposentadoria. Havia começado a trabalhar aos 18 anos de idade, com carteira assinada, equivalente naquela idade ter em mãos um documento que o habilitou a desfrutar de todos os direitos previdenciários previstos na norma do servidor, incluindo o início do período aquisitivo da aposentaria que chegaria quando atingisse 30 anos de efetivo serviço prestado ao Estado, com certidão da previdência anotando o recolhimento da contribuição necessária a entrega do benefício da inatividade.

Tudo certo, aposentadoria aos 48 anos de idade. Pouca idade? Concordo porque no desempenho da atividade intelectual o homem naquela idade encontra-se no topo de sua potencialidade e, como é hoje, deveria seu empregador, o Estado, sacar mais proveito de seu empregado. Mas não era assim que a norma previdenciária tratava da aposentadoria de algumas categorias do serviço público, olhando o servidor como uma pessoa forte, em condições de manter a sanidade por longo período, mas a despeito, concedia-lhe uma especial vantagem em relação aos demais.

Um amigo de prenome Milcíades, ex juiz de direito da vizinha Barra Bonita, aposentou-se aos 42 anos de idade. Com plena saúde física e mental, foi trabalhar na advocacia, cuja atividade tinha completo discernimento mercê da judicatura que lhe proporcionou larga experiência jurídica.

Nos três primeiros meses de inatividade do amigo Mário, sem ter nada a realizar, almoçava, cochilava e depois caminhava pelo centro da cidade para fazer a digestão. Além dessa atividade, zanzava por algumas lojas com os olhos voltados ao seu interior, a procura de algum conhecido para conversar e passar o tempo.

Caminhar, andar de bicicleta, praticar esporte no Sesc, pescar no caudaloso Rio Paraguai e outros quejandos eram atividades recomendadas como beneficiárias à saúde, todavia, para quem era saudável e enfrentou o trabalho desde a adolescência, ainda tinha disponível algum tempo de sobra, bem aproveitado no descanso.

Inobstante a repetição de fatos do dia-dia, tornou-se uma chatice a vida rotineira de Mário destacadamente depois de aposentar-se, chegando a cogitar com seriedade em quebrar o celibato, juntando-se com uma jovem prendada, pouco importando se houvesse grande diferença de idade entre o casal, pensou. Sua condição de homem idoso, não o impedia de namorar uma mulher jovem porque se lhe faltava o viço da mocidade, tinha para o gasto boa aparência, razoável trato do vernáculo, deixado a pobreza logo após a infância, mas criado sob um regime austero que o preparou na vida para ser respeitoso com as pessoas, passando a ilusória imagem de ter frequentado as melhores escolas e possuir menos idade.

Espalhou aos amigos, que não eram muitos, porém todos de boa índole, que pretendia namorar e casar-se, portanto, as reuniões para um cafezinho com eles aos sábados teriam limitação para bem aproveitar o tempo com a namorada. Os amigos aquiesceram a ideia de Mário e para comemorar o evento marcaram uma reunião noturna numa movimentada pizzaria, onde degustariam chopp e o delicioso prato napolitano.

No dia designado, a mesa reservada estava à nossa disposição e a pizzaria lotada de jovens cujo vozerio abafava a musica do restaurante. Um dos amigos, o Dida, vendo uma senhora dele conhecida em mesa próxima, a ela dirigiu-se afim de cumprimenta-la. Tratava-se de uma jovem senhora, como classificaria uma amiga, entre 50 e 60 anos de idade, de rosto todo pintado e a cabeça empetecada de bijuterias. Mario notou que a jovem senhora não deixava de pousar seus olhos nele, levando-o a dizer aos amigos em tom bem suave: " aquela senhorinha está me cozinhando com os olhos".

E Dida, o amigo que fora cumprimentar a jovem senhora, retornou à mesa e contou ao Mário: aquela mulher perguntou-me de você, dizendo " quem é aquele senhorzinho com aparência de velho?"

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