A geração de riqueza no Brasil no terceiro trimestre deste ano foi positiva em 0,9%, atingindo R$ 3 trilhões no período, sendo o 13º. resultado positivo consecutivo do indicador em bases trimestrais. O patamar veio acima da projeção média do mercado que apontava para 0,8%. Com o resultado, o Produto Interno Bruto (PIB) teve alta de 4% em relação ao mestre trimestre de 2023, acumulando alta de 3,1% em quatro trimestres.
Na visão crítica podemos apontar duas faces do desempenho do PIB: o lado bom e o lado ruim. O lado bom é o resultado em si, inclusive a boa notícia de que finalmente os investimentos, ou seja, a formação bruta de capital, tiveram resultado positivo de 2,1%. Quando este indicador cresce é sinal de que o investidor tem alguma confiança na economia. Também foram positivos os resultados da indústria, do comércio e da prestação de serviços. A indústria cresceu 0,6% e o setor terciário (comércio e serviços) cresceu 0,9%.
O lado negativo veio do setor primário da economia, a agropecuária, que encolheu 0,9% no trimestre. Também tem um sinal de alerta no crescimento tanto do consumo das famílias como nos gastos do governo (1,5% e 0,8%, respectivamente). Este alerta se faz necessário porque ambos pressionam a inflação, que já está desancorada da meta máxima de 4,5% para este ano.
Outro ponto a ser a considerado é que o país passou a operar acima de seu PIB potencial, o que indica mais pressão inflacionária, a chamada inflação de demanda. Se há pressão nos preços quer pela insuficiência de oferta, e ainda pela elevação dos custos, a demanda aquecida potencializa os índices de inflação.
O crescimento de 0,9% do produto interno bruto brasileiro no 3º trimestre comprovou a manutenção do aquecimento da demanda interna no período, mas renovou os alertas para os sinais de que a economia pode estar crescendo acima do seu potencial, com o natural risco inflacionário embutido.
Se considerarmos a frustração no pacote fiscal, que mexeu com o mercado, em especial o mercado cambial, o que pressiona os custos dos produtos (os que são cotados em dólar ou que são total ou parcialmente indexados em dólar), mais o excesso de liquidez provocado pelos gastos governamentais elevados, mais problemas de abastecimento por questões climáticas, mais a pressão nos preços de commodities alimentícias e metálicas devido as conflitos geopolíticos, que somados agora ao apetite em consumir das famílias brasileiras, será inevitável que a taxa básica de juros suba, levando no médio e longo prazos, a redução no ritmo da atividade econômica.
Esse movimento de alta da taxa de juros deve ser confirmado na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nos próximos dias 10 e 11 dezembro, a última do ano, em que não está descarta alta entre 0,75 e 1,0 ponto percentual na taxa básica de juros.
Se de um lado podemos, diria melhor, devemos comemorar o bom desempenho da economia brasileira, por outro lado, sem fazer a lição de casa, sem sustentar o crescimento econômico, em vez de mantermos o pé firme no acelerador e prosperar, teremos que reduzir a velocidade, o que certamente afetará o mercado de trabalho e a renda dos que estão no mercado de trabalho.
Há que se lamentar que questões óbvias como o controle dos gastos públicos, sejam deixadas de lado e não tenhamos uma economia que cresça de maneira sustentada.