A revista Sustainable Cities and Society, do último mês de julho, traz um artigo onde mostra que 37% dos imóveis analisados em Florianópolis não estão preparados para as temperaturas elevadas e as ondas de calor, cada vez mais intensas e longas, previstas para os próximos anos em decorrência do aquecimento global.
É fácil observar em Bauru, construções incompatíveis com as mudanças climáticas: imóveis selados, com grandes fachadas envidraçadas, muitas voltadas para o pior lado, o oeste ou do sol da tarde. Tudo leva a crer que ainda não nos adaptamos para o que está por vir. Em edifícios comerciais isso significa uma redução significativa na quantidade de horas de conforto térmico, com queda de produtividade, mesmo com o auxílio do condicionamento do ar.
Também se nota, com facilidade principalmente em condomínios, residências com fachadas padronizadas nas diferentes tonalidades do cimento ou do cinza claro ao cinza escuro, algumas em grafite e até em preto. São cores a serem evitadas já que absorvem mais calor em comparação com aquelas mais claras ou com emissividade térmica elevada.
É preciso proteger as edificações da incidência solar direta com o uso do sombreamento vegetal ou através da adoção de brises, beirais ou varandas que também possibilitem a ventilação cruzada. Embora ainda insipiente entre nós, é vital incrementar os sistemas passivos de controle térmico com o uso de janelas com vidros duplos ou de controle solar, ventilação natural, tetos verdes, telhados frios, sem o ático ou com laje impermeabilizada, que possibilitem a evapotranspiração da água aspergida sobre a argila expandida.
O aproveitamento dos córregos com a construção de represas e a restauração florestal nas áreas rurais, ao redor das cidades, pode aliviar a temperatura e contribuir para aumentar a umidade do ar e o volume de água disponível nos períodos de seca acentuada.
Mas, como será praticamente impossível ficar sem o ar-condicionado, pode-se optar pelos mais econômicos como aqueles dotados de inversores de frequência. De qualquer forma, o uso cada vez mais generalizado do ar-condicionado, eleva a temperatura fora dos ambientes refrigerados, por conta do calor rejeitado pelas condensadoras. Isso agrava o impacto urbano ao aumentar o efeito ilha de calor.
De acordo com um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina, o consumo de energia para o resfriamento tende a aumentar de forma bastante significativa ao longo dos próximos anos. Atualmente, o ar-condicionado já é responsável por 3% das emissões globais de carbono.
Dada a situação crítica em que nos encontramos, não há alternativas: ou reorientamos nosso futuro ou entraremos em colapso. A população cresceu e com ela, também o consumo de todos os recursos naturais do planeta. É preciso cavar mais fundo, extrair com mais eficiência, enfim, consumir o planeta até a última gota, para suprir a energia que alimenta nosso insaciável projeto civilizatório. Parece que, para nós, a Terra perdeu seu encantamento, foi dessacralizada e objetificada.