A morte da secretária-executiva da Apae Claudia Lobo cometida supostamente pelo então presidente da entidade, Roberto Franceschetti, foi ‘queima de arquivo’, na avaliação do delegado Cledson Luiz do Nascimento, titular da 3.ª Delegacia de Homicídios (3.ª DH) da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) e responsável pelo caso que chocou a cidade, neste ano.
O novo entendimento sobre a motivação do homicídio foi revelado no videocast do JCNET “E aí, Colim?”, veiculado no último dia 4. Quando as investigações que fizeram de Franceschetti réu pelo assassinato de Claudia foram iniciadas, a Polícia Civil acreditava que o óbito teria sido provocado pela disputa de poder. A posição, porém, foi revista no decorrer das apurações.
“Não encontramos nenhum elemento indicativo de ruptura ou conflito”, afirmou o delegado durante o programa. De acordo com ele, após ouvir mais de dois mil áudios do telefone de Claudia, nada apontou para briga ou confronto que marcasse o fim da relação de amizade que havia entre os dois. A análise subjetiva é tirada com base na ausência de outros elementos, diz Cledson, segundo quem apenas Franceschetti pode confirmar, sem qualquer dúvida, a verdadeira razão do assassinato.
Perfil psicológico
A atual tese da investigação policial leva em conta também o perfil psicológico dos envolvidos. O então presidente da Apae é apontado como narcisista, cujo padrão de comportamentos inclui sensação de grandiosidade. Quem convivia com ele sabia que as pretensões de Franceschetti iam bem além da Apae. Inclusive, nas propagandas da entidade, ele ganhava mais destaque que os próprios serviços ou eventos realizados, comenta o delegado no videocast.
Para a Polícia Civil, Franceschetti passou a estranhar o comportamento da secretária-executiva, diagnosticada com Transtorno de Borderline, conforme laudo obtido por Cledson.
Essa condição psicológica fazia com que Claudia estabelecesse relações de dependência excessiva de outras pessoas. A polícia afirma que, inicialmente, ela personificou como ídolo o ex-marido, depois a presidente da Apae, Olga Bicudo, e, por fim, o próprio Roberto Franceschetti. “Quando Roberto entra na Apae, coincide com o falecimento de Dona Olga e a separação de Claudia. Então, ela transfere essa dependência para Franceschetti”, reitera Cledson.
A situação estava equilibrada até que surge um romance na vida de Claudia Lobo. Nos últimos quatro meses de vida, a secretária-executiva passou a namorar um delegado aposentado e a relação de dependência estaria migrando para ele, avalia o titular da 3.ª Delegacia de Homicídios (3.ª DH).
Receio
Para Cledson, essa mudança fez Franceschetti acreditar que Claudia pudesse denunciar o esquema de desvios de verbas em que os dois estavam envolvidos. Durante as investigações, a Polícia Civil também constatou que ela nunca demonstrou qualquer intenção em assumir a presidência da Apae, como se cogitou inicialmente.
Ainda segundo a Polícia Civil, o então presidente da Apae desligou do núcleo central da entidade as pessoas que, de alguma forma, poderiam comprometê-lo por conta de supostos desvios. O último, inclusive, seria um contador. Restara apenas Claudia. Em abril desse ano, ele contratou Dilomar Batista, amigo de longa data que admitiu ser cúmplice na ocultação de cadáver da secretária-executiva, cujo corpo queimou por quatro dias.
Considerado “braço forte” de Franceschetti, Dilomar era responsável pelo setor de compras, mesmo sem ter conhecimento técnico para tanto. Nestas condições, ele teria como deixar passar eventuais desvios, avalia o delegado. Ela, no entanto, passou a preocupá-lo com o novo comportamento, que resultou na ‘queima de arquivo’, aponta o titular da 3.ª Delegacia de Homicídios (3.ª DH).